Para poder escrever este texto eu precisei engolir todo o conteúdo de uma garrafa de água e respirar fundo três vezes, duas coisas que não são ligeiramente fáceis de fazer tossindo o tempo todo e tomando dois remédios. Porque é muita coisa difícil de ser escrita ao mesmo tempo.
Eu não gosto de complexo de vira-lata nem qualquer coisa semelhante, mas acredito que o Brasil está superando toda expectativa de bom senso neste segundo turno. E isso não é exclusividade nossa, considerando como andam as coisas na atmosfera internacional – vamos combinar que, a partir do momento em que o Trump foi eleito, já deu para perceber quão loucas as coisas estavam ficando. O Trump, aquele cara que não só apareceu umas mil vezes nos Simpsons como na vida real também parece um desenho animado! Sério, você já devia ter começado a desconfiar que as coisas não poderiam ficar muito melhores a partir daí.
E o que dizer dessas eleições agora, que fazem até mesmo eu, que realmente gosto de acompanhar política e notícias gerais, rolar os olhos e ficar indignada a cada novo texto da grande mídia ou post de eleitores de ambos os lados? Porque sim, é bem assim que eu me sinto.
Decidi começar pelo Haddad, que é mais fácil. Até hoje recebo perguntas de meus amigos perguntando por que estou tão calada se gosto dele. E sim, eu realmente gosto dele, gostei da gestão que ele fez aqui na prefeitura de São Paulo, cargo para o qual votei nele duas vezes. O candidato é a minha personalidade preferida do PT, junto com o Suplicy – em quem eu não votei e nem votaria, mas nem por isso deixo de achá-lo um sujeito bacana. E é justamente por gostar do Haddad que eu me sinto muito mais decepcionada quando o vejo fazendo o gesto de “Lula livre” e indo pata a cadeia pedir conselho. Primeiro porque eu não quero o Lula livre coisa nenhuma, quero mais é que prendam vários outros (Oi, Aécio! Tudo bom?!); e em segundo lugar porque ainda acredito que ele pode ser bem melhor do que isso.
E depois tem o Bolsonaro, essa pessoa que me deixa até sem palavras porque a cada discurso dele que vejo eu meio que não consigo acreditar que ele de fato existe. Eu não vou usar nenhum dos termos pejorativos que todo mundo está usando porque já estou cansada desse mais do mesmo, mas é sério. Como??? Não tem explicação para uma coisa dessas. É claro que é muito óbvio o porquê da ausência dele nos debates, eu também não iria se só falasse besteira. E olha que eu já vi propagandas eleitorais ruins, mas usar esse espaço para falar de uma reversão de vasectomia nunca – nem sabia que dava para reverter!
Ainda pior do que essa situação desagradável de ter que escolher entre um dos dois quando sim, esse ano tínhamos várias opções diferentes e algumas até viáveis mesmo, é a pressão que seus ativistas de Facebook, que muitas vezes nem sabem de verdade o que é ativismo e só estão agindo como massa de manobra de uma mente que realmente ensaia as palavras mais “certas” para o espetáculo, jogam em cima de todo mundo qualquer um que deles discorda.
Minha posição política? Centro-esquerda e social democrata, já falei isso várias vezes. Se eu acredito que alguém vai mudar a opinião de alguém que decidiu votar no Bolsonaro ao chamá-lo de burro e fascista, ou então ao colocar mil xingamentos diferentes em todas as mídias sociais existentes? Não. Penso que algum eleitor do PT vai mudar de lado após ver todas as acusações de corrupção e todas as frases com a foto do Bolsonaro ao fundo em verde e amarelo nos seus Stories? Também não!
Além de não acreditar que aqueles que já têm suas posições definidas queiram mudar o voto diante das expressões contrárias, também não acredito muito no efeito dessas mesmas alegações em cima dos indecisos. E entenda que sim, eu amo os meus amigos e entendo o terror que muitos deles estão sentindo; mas também entenda que existe uma categoria de pessoas “indecisas” que assim o são porque ao imaginar um futuro de ambos os lados não enxergam nada além de bosta voando em todas as direções, o que obviamente não é nem um pouco satisfatório. A gente já vem escolhendo o “menos pior” há muitos anos, e olha só que destino maravilhoso essa escolha nos reservou! Muito dificilmente jogar mais um discurso polarizado em cima desse público em questão vai surtir o efeito desejado, talvez a pessoa até finja que concorda só para lhe fazer calar a boca – o que você com certeza também não quer, pois no fim das contas é o voto que conta.
Eu me sinto extremamente chateada com “argumentos” de defesas em favor de ambos os candidatos, porque muitos deles de argumentação mesmo não tem nada. Por exemplo, as duas frases mais famosas da esquerda continuam sendo “Fascista!” e “Você precisa estudar História!”. Antes de continuar minha linha de raciocínio, quero lembrá-los que já revelei a minha tendência um pouco mais à esquerda ali em cima, e para quem caiu de paraquedas aqui e talvez não saiba, História não só é a minha matéria preferida na vida como eu continuo estudando-a até hoje; acho bom vocês terem isso em mente antes de lerem o que estou escrevendo a seguir: QUANDO VOCÊ ACUSA ALGUÉM QUE ALEGA SER DE DIREITA DE FASCISTA MOSTRA QUE SERIA BOM VOCÊ REVER ALGUMAS AULINHAS DE HISTÓRIA TAMBÉM! E não sou euzinha que estou dizendo isso não, são dois historiadores italianos especialistas em Fascismo via BBC. Pois é!
Já deu para perceber que eu não estou escolhendo nenhum lado, certo? Ótimo, então posso seguir com minha crítica em paz.
Quero falar ainda de dois clássicos nessa eleição. O primeiro é aquela pessoa que até outrora se declarava comunista e agora grita de dores pela democracia. Entenda que eu não estou me referindo a pessoas que temem pela continuidade da democracia, porque eu sou uma dessas; estou falando da pessoa que assumidamente curte uma foice, PSTU e PCO e agora faz textão preocupadíssima com a democracia. Segue lista de líderes comunistas democratas e reconhecidos como grandes humanitários: Che, Stalin, Mao Tsé-Tung, Fidel Castro, Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Mas é claro que todos eles se esforçaram demais para manter a representatividade e pluralidade de suas instituições democráticas, né? Assim vocês insultam a minha inteligência, por favor! Acho que nesse ponto eu até prefiro o discurso dos pró Bolsonaro que conheço porque se baseia mais naquele clichê “Economia, corrupção, PT não dá” etc, e menos fanfic; estes outros que querem sair atirando em todo mundo que não tem a cor ou a preferência sexual desejada felizmente não conheci.
Finalizo a minha crítica com uma última frase que li ontem: “O anti-petismo começou quando o filho do patrão encontrou o filho do empregado na mesma faculdade”, mais um discurso polarizado. Eu fico até perdida porque dentro de uma frase há tanto a dizer! Eu nunca fui contra o Bolsa Família, apesar de achar que a fiscalização contra as fraudes deveria ser maior, acho que é um programa sensacional e já vi alguns economistas e estudantes fazendo estudos que comprovam isso; e tenho essa mesma opinião sobre o PróUni, CsF etc (Rouanet não). Compartilhar uma frase dessas é um desrespeito enorme, não com aquelas pessoas que declaram abertamente serem de direita, e sim com aqueles antigos militantes que andavam com bandeiras e broches do Lula, mas hoje decidiram votar no Bolsonaro porque se decepcionaram com o tanto escândalo que surgiu. Eu conheço algumas pessoas boas que me procuraram para dizer exatamente isso, e convido vocês a tentarem ouvir a versão delas sobre esse anti-petismo citado, se é que alguém ainda se importa com essa coisa de ouvir a opinião do outro.
Eu ainda sonho com o dia em que o Brasil deixará de ser tão polarizado, porque sinceramente não acredito que a gente atinja algum progresso real antes de reconhecer e falar abertamente sobre as falhas e vantagens de ambos os lados. Aquela famosa terceira via que nunca vai pra frente, sabe?