59 dias. 1416 horas, 84960 minutos, 5.097.600 segundos. Tantos milésimos quantos não ouso contar. Menos que dois meses, quase nada.
Aí eu percebo que, sempre nessa mesma época, começo a lembrar e analisar o que eu esperava do meu ano. Aquelas listas de metas, sabe? Não como aquelas listas enormes que eu fazia na adolescência, com metas incontáveis das quais eu não chegava a cumprir a metade – coisa que, quando paro e lembro as coisas esquisitas que eu costumava escrever, não acho que tenha sido tão ruim assim ter deixado vários itens pendentes. Acho que minhas metas hoje são bem mais práticas e pé no chão.
E não é como se meu ano tivesse sido ruim, porque não foi, ou se eu tivesse conseguido cumprir todas as metas que escrevi, porque ainda faltam duas; mas não é isso que me assusta. O tempo me assusta, a ausência dele para ser mais sincera. Ainda não vi coisa mais preciosa que o tempo, nem mais escassa.
Sempre que penso sobre isso fico perplexa. Na infância, nas aulas de canto e coral da 5ª série, meu professor de música preferido costumava nos treinar para cantar Aquarela, do Toquinho, em uma apresentação que já nem me lembro mais se aconteceu ou não, só sei que eu gostava tanto daquela música que nunca mais esqueci a letra; e enquanto estava aqui escrevendo sobre isso me lembrei daquele trecho que diz “E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar, não tem tempo, nem piedade e nem tem hora de chegar. Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar…”.
Quando criança, querendo crescer logo (hoje não sei por quê), eu não tinha a mínima ideia do que o Toquinho queria dizer com isso; depois na adolescência concordei. Mas agora não acho que só o futuro seja tão imprevisível e incontrolável assim, porque todos os dias quando acordo o presente dá um jeito de me surpreender. E não estou dizendo que isto seja algo ruim, porque não é em 85% das vezes. Só me assusta mesmo.
Me lembro tantos detalhes da minha infância, até já escrevi sobre alguns aqui, mas me lembro nitidamente de coisas de quando eu tinha três ou quatro anos… E no mês que vem, caso assim Deus queira, já serão vinte e dois anos. Eu, com vinte dois anos. Ainda nem me acostumei direito com os vinte e um! Deixei de me acostumar depois dos dezoito. Talvez esta seja a famosa crise dos vinte, e não é nada agradável.
Acho tão confuso pensar em todas essas coisas, porque se penso demais na brevidade do tempo começo a me imaginar daqui a alguns anos correndo atrás de uma criança remelenta que chamarei de meu filho enquanto seguro outra mais nova nos braços para trocar a fralda (pelo menos é assim na minha cabeça, se vai ser assim mesmo eu já não sei); e muitos anos depois (espero!) me vejo tendo aquela crise do primeiro fio de cabelo branco; e muitos outros anos depois, já com todos os cabelos brancos, abusando da minha velhice para ser ranzinza. Não, eu não quero ser ranzinza, acho mais capaz de ser uma daquelas idosas que contam histórias, tipo a de quando resolvi escrever alguma coisa sobre o tempo na minha juventude.
Tudo não passa de um átimo, e isso é bizarro. Coisa que voa sem pedir minha opinião, e do jeito que sou lerda, caso a minha opinião diferenciasse em algo, gostaria que tudo acontecesse em câmera lenta para descobrir se aproveitando o tempo minuciosamente não houvesse pretexto para saudade, nem para lamentos ou procrastinação.
Como se fosse possível degustar o tempo como chocolate, saboreando detalhadamente e identificando todos os sabores presentes na receita, exceto aqueles que de tão ruins ninguém quer. Como se o tempo se importasse em ser sujeito às minhas vontades loucas e estivesse sempre à minha espera, como os mordomos dos filmes que estão prontos a atender assim que um sininho ressoa…
Toda essa brevidade me serve como um lembrete diário de que eu nada sou.