Chá de Camomila e Gilmore Girls

Crônicas

Sherlock Holmes me introduziu ao mundo da leitura, quando na biblioteca de minha antiga escola comecei a devorar suas páginas com avidez. E com as séries não foi muito diferente.

Eu mentiria se dissesse que nunca assisti nada antes disso, e quando pequena eu até via alguns episódios soltos de Psych e Monk com o meu pai. Mas sem sombra alguma de dúvida foi a adaptação mais recente da BBC  que me ensinou a ter assiduidade, tanto com Sherlock quanto com todas as séries que passei a acompanhar depois dele.

Agora, Gilmore Girls é completamente o oposto de tudo que sempre procurei em uma série: não tem nenhum mistério, investigação ou herói. Pensa numa coisa pacata! Eu não as assistia nem quando passava no SBT, e se uns dois anos atrás alguém me recomendasse a trama dessas duas, eu provavelmente ignoraria.

Quem diria que a graça da história é justamente essa? Porque Gilmore Girls foi a segunda série, depois de Friends, a me lembrar que não são necessários grandes cenários, efeitos ou enigmas para fazer um roteiro interessante. Nada mais que a vida cotidiana, com seus problemas e maravilhas, sendo retratada de forma simples e intensa.

Sabe aquela sensação de tarde fria, sofá, cobertor e comida gostosa? Um chá bem quentinho, um pedaço de bolo e um bom livro para passar o tempo enquanto gotas de chuva batem contra a janela – é o que eu sinto quando assisto Gilmore Girls. E não é só porque a Rory é uma das personagens com quem mais me identifico, mas sei lá. Trilha sonora muito boa, alternada com pitadas de ironia e drama formam a combinação perfeita para tudo o que minha cabeça associa com a essência de relaxar.

Eu descobri que amava mesmo essa trama nas vezes em que eu saía do trabalho cansada e estressada, quando eu não queria saber de nenhuma grande saga ou ideia inovadora. Eu queria fechar meus olhos e me desligar tudo por duas horas, só isso. Mas se fecho os olhos nesse estado faço tudo, menos desligar – são horas em que Lorelai alcança esse propósito com melhores resultados.

E hoje, quando ainda assisto Gilmore Girls economizando os episódios com medo de perder as sensações boas já citadas, acredito que a missão da Amy Sherman-Palladino seja exatamente esta: lembrar que nessa vida que Deus nos deu não há nenhum problema em parecer comum às vezes. Ninguém é totalmente extraordinário o tempo todo, e menos continua sendo mais; a simplicidade e a quietude são bem-vindas.

A despeito de quantos problemas e correrias possamos ter, saber separar um tempo para as coisas bobas também é uma virtude.

Outra Vez a Identidade

Cristianismo, Sem categoria

Oi! Tudo bem?

Faz tanto tempo que não apareço por aqui, acho que nem lembro mais como é que se faz. Mas estou disposta a fazer deste (mais) um recomeço (dos vários) que venho experimentando nestes dois últimos anos.

Há algum tempo, não me lembro exatamente quanto, já escrevi aqui sobre identidade. Porque já experimentei essa crise diversas vezes, e de formas variadas com o decorrer dos anos; mas do jeito que ela me invadiu nessa última vez eu certamente não esperava: nem com a minha imaginação de milhões, leitora versada nos diferentes tipos de ficção (do romance ao thriller), eu poderia me sentir capaz de transportar coisa semelhante para o campo da realidade. E me choca que mesmo agora, quando eu começo a me sentir bem e livre sobre as coisas que aqui estão sendo escritas, tudo sempre volte para o ponto da identidade. Enquanto tomava a minha (primeira de duas) caneca (leia-se: balde) de café e refletia antes de rabiscar no caderno que originou este post concluí que, pelo menos comigo, tudo sempre começou com a identidade; e nisso se incluem os recomeços, portanto não haveria nenhum caminho diferente para mim ou para este blog.

Um dos livros mais incríveis sobre arte e criatividade que já li foi descoberto no Kindle Unlimited (não sei dizer se por lá ainda continua), e se chama Roube Como Um Artista. Tentando resumir a ideia dele em poucas palavras, além de alguns exercícios muito úteis sobre como cultivar a criatividade, ele parte do pressuposto de que toda obra de arte é, em maior ou menor grau, um roubo: nenhuma ideia surge DO NADA como se um belo dia qualquer artista abrisse a janela lateral do quarto de dormir para contemplar o formato das nuvens e então, pura e simplesmente, a voz do anjo sussurrasse em seus ouvidos a ideia mais genial de todos os tempos – ainda que esse quadro seja muito bonito, poético, e biografias variadas relatem “experiências” como essas à exaustão. Como teísta eu não posso dizer que não acredito que coisa nenhuma possa vir à existência DO NADA, mas no que tange à Arte eu confesso que sou bem cética em relação a alguns mitos.

Pode ser que, assim como eu venho aprendendo a fazer com quase tudo nos últimos meses, você desconfie das minhas opiniões e certezas sobre este e qualquer outro assunto, e eu não os culparia por isso; na verdade, não pensem que eu mesma não questionei e reavaliei todas as minhas próprias certezas antes de conseguir reorganizar as minhas ideias e voltar a mostrar minha cara por aqui – ainda voltaremos neste ponto mais tarde. Mas quando digo que nenhum tipo de arte pode surgir do nada, não sou a única voz a pensar deste modo; inclusive, estou lendo uma tese que encontrei semana passada na Bienal e fala abertamente sobre os variados tipos de roubos que podemos encontrar na Cultura Pop, é bem interessante e escrita de forma acessível! A quem também for confessamente aficionado em pautas culturais, como eu admito que sou, e o livro possa interessar, se chama Hit Makers – Como Nascem as Tendências, de Derek Thompson.

O primeiro problema começa quando aquilo que deveria se aplicar apenas à Arte rompe a quarta parede e invade aquilo que conhecemos por, ou ao menos assim pensamos ser a, realidade.

Nesses últimos tempos também venho experimentando alguns avanços significativos nas minhas habilidades com o desenho. E, apesar de eu gostar muito (isto é, AGORA) da forma como isso vem se dando, existe uma história um tanto dolorosa por trás de como esse avanço começou, que até então eu vinha escondendo de todo mundo e (principalmente) de mim mesma.

As palavras sempre foram a minha forma de arte preferida, e dizer isso nunca foi fácil, porque qualquer um que me conhecer um pouquinho deve perceber rápido que eu gosto de muita coisa ao mesmo tempo. Mas somando tudo o que as letras de música, a leitura e a escrita me proporcionam juntas, as palavras desbancam todos os meus outros gostos de lavada absoluta. E eu só fui capaz de perceber a segunda maior crise que já vivenciei, no ano passado, quando me vi sem palavras. Foram dias, e até meses, em que as palavras foram varridas da minha mente e deixaram uma enorme tela em branco, que nunca parecia ter fim. Nesse tempo eu só conseguia chegar do trabalho exausta e chorar, por dias e dias. E o pior de tudo era que eu não tinha palavras sequer para tentar compreender o que estava acontecendo.

Simultaneamente eu fui pressionada, por duas das pessoas que até aquele momento eu mais considerava, a me expressar e colocar à força para fora tudo aquilo que me angustiava. Eu fui cutucada, encurralada, questionada e descreditada de muitas formas. Queriam que eu falasse, que eu me defendesse ou me justificasse; mas ironicamente a pessoa que “mais se preocupava” e “mais estava disposta a me ajudar” foi a mesma que me interrompeu sem nem pedir licença e pulou pra cima de mim com quatro pedras no primeiro momento em que tentei abrir a boca e pedir ajuda, tornando-se a assim a segunda a despertar a crise. E quero deixar bem claro aqui a qualquer um que tente (ou ainda pior, consiga!) encaixar as situações e nomes ocultos que não estou tentando atribuir culpa ou intenção de dolo a nenhuma dessas outras três pessoas. Pelo menos nesse quesito tanto me tocou não; e ainda se houver, não é a mim que cabe decidir – mas também não posso deixar de sinalizar aqui que o teto de vidro é uma coisa impressionante: já reparou que pouquíssimas pessoas estão dispostas a seguir os mesmos conselhos que prontamente lhe empurram e engolir a (suposta) vergonha que tanto lhe atribuem? Para estes e tantos outros casos a minha recomendação é que, assim como eu venho aprendendo a fazer ultimamente, vocês desconfiem. Desconfiar de coisas e pessoas que não se mostram dignas de confiança não é nenhum pecado, ainda que com mil pregações e lavagens cerebrais aparentemente (e só aparentemente) diferentes tentem lhe convencer do contrário.

Como eu podia querer tentar explicar alguma coisa quando até mesmo as minhas companheiras de longa data, e nesse caso me refiro às palavras, haviam me abandonado? Como eu podia verbalizar uma dúvida sobre a suposta neutralidade de julgamento, tanto minha quanto das pessoas envolvidas, estava botando em cheque a grande maioria das crenças e fundamentos que eu vinha empenhadamente construindo há onze anos, como um castelo de cartas rugindo com uma rajada de vento? E como eu podia dizer que o estopim da crise veio de uma cópia muito mal feita e descarada de mim mesma, saída do lugar onde eu menos esperava, mas que ainda assim essa nem era a pior parte? Ou que eu me sentia roubada de mim mesma e violada das piores formas que, até então, eu era capaz de imaginar? Eu não podia, não tinha palavras para isso! E as poucas que ocasionalmente surgiam estavam mais ocupadas em questionar a minha própria sanidade do que todas as outras coisas que deveriam ser questionadas – e deveriam, de fato, serem questionadas porque se provaram mais que dignas de indignação a cada dia que notícias indesejadas e desagradáveis me chegam e provam que a minha loucura sempre foi menor do que eu mesma previa; mas eu pelo menos posso falar abertamente que não considero que procurar ajuda psicológica seja nenhum crime, ou falta de Deus, e tratei logo de procurar uma para garantir que não estava mesmo ficando louca. Tenho até recibo para comprovar.

É verdade, também, que eu já estudei desenho na ETEC; mas o avanço que falei mais cedo, somado a um progresso considerável, começou no mesmo instante em que as palavras fugiram: os traços e sombreados me permitiam a forma de expressão que elas me negaram, bem como os passos de ballet, há muito enferrujados, que tirei do baú e voltei a praticar em meu quarto e minha sala em segredo, quase toda vez que me via sozinha. Porque a dor, ainda que sempre indesejada, também é um meio de liberdade e produção de coisas belíssimas. Mas foram raríssimas as vezes em que eu fiz qualquer desenho ou coreografia sem nenhum referencial em vista ou em mente; e se levarmos em conta o repertório interno que tanto eu como todas as pessoas têm, RARÍSSIMAS se reduz facilmente a NENHUMA.

Confesso que, particularmente, não vejo nenhum problema nisso no que se trata de Arte, porque é justamente para isso que a quarta parede existe – esclarecendo também que, quando menciono a quarta parede aqui não estou desmerecendo o desmanche intencional dela nas obras em si, porque em alguns casos penso que esse efeito é até que bem interessante NA ARTE. E repito, NA ARTE. Pois não sinto nenhuma culpa em confessar que eu acho LINDOS, BEM CONSTRUÍDOS E ATÉ POÉTICOS o final de Breaking Bad, e os roteiros de Joker e La Casa de Papel sem necessariamente concordar e apoiar qualquer mente DOENTIA que queira transportar essas mesmas ideias da ficção para o campo da realidade. Porque para tudo na vida existe um limite, e essa barreira invisível entre a ficção e a realidade é mais que necessária.

Quase todas as pessoas que passam a me conhecer mais de perto dizem que um dos meus pontos de maior destaque nunca foi isoladamente a minha inteligência, dedicação, aparência, essa jovialidade resistente (que eu sinceramente não faço a menor ideia de onde veio), os meus talentos, a sensibilidade ou as trapalhices (incluo aqui um defeito para que este desabafo não se torne uma ode a mim mesma; mas deixo só um neste texto porque todos os outros vocês podem facilmente descobrir na realidade analógica do dia a dia), mas sim a forma como todas essas coisas juntas se misturam na composição da minha identidade; e a recíproca é verdadeira, porque eu mesma sempre pensei e senti isso com muita intensidade. Roubando escancaradamente as frases de duas (grandes) pensadoras contemporâneas, “Ser de verdade tem um preço e eu sempre pago” (GAVASSI, Manu) e “It’s easy if you it *right*. Well, I refuse, I refuse, I refuse!” (WILLIAMS, Hayley).

Hoje percebo que, talvez esse possa ser justamente o motivo de todas as minhas grandes crises terem começado com inseguranças sobre aqueles que eu julgava serem os “fundamentos” da minha identidade, e é essa mesma percepção que agora me obriga a finalmente abrir a boca sobre as indagações que a fuga das palavras me trouxeram; porque estou bem longe de acreditar ter sido o único alecrim dourado a enfrentar os mesmos dilemas.

Eu já tinha experimentado a demolição do que chamei aqui de “fundamentos” da minha personalidade de maneiras diversas no decorrer dos anos: começou com o divórcio dos meus pais e os traumas que daí seguiram quando eu tinha dez anos, continuou com a mudança de bairro e escola; passou pelo processo de assumir para a minha mãe, com 14 anos, todas as dúvidas que eu estava tendo em relação à fé que eu já nem sabia mais se tinha e em segredo vinha cultivando desde os 12; depois disso, ainda na adolescência, a segurança confusa que de alguma forma inesperada eu havia sido privilegiada com uma porção generosa de inteligência, e que mesmo assim esse privilégio não me concedia nenhuma licença especial para me tornar arrogante, ou uma babaca completa. Além dessas demolições, eu ainda poderia falar detalhadamente sobre como voltei a reconsiderar as minhas dúvidas sobre relacionamentos e Cristianismo aos 17, ou como os meus sonhos e planos de carreira foram desafiados e transformados junto com a esmagadora descoberta de que o meu sentido de valor próprio estava muito mais atrelados a eles do que deveria; mas, sinceramente, estou com muita preguiça (easter egg: agora vocês já sabem mais um grande defeito meu). Só que em nenhuma dessas crises anteriores, no entanto, eu me senti tão… Atropelada, invadida, estilhaçada e petrificada quanto na última. Foi a pior sensação que já tive, e não consigo desejá-la nem para as piores pessoas do mundo.

Porque em todas essas outras crises eu havia “encontrado” a solução para elas de um jeito aparentemente mais “voluntário” e menos doloroso que na última vez. Pessoalmente não acredito que ninguém encontre Jesus por si só sem que antes Ele próprio se permita ser achado, mas acredito sim que Ele tenha algumas formas mais sutis de fazer isso e nos tornar coparticipantes do processo, apresentando um jugo suave e um fardo leve. E quando eu me vi assaltada de mim mesma não consegui enxergar nenhuma beleza e suavidade, porque o que me aconteceu não foi obra de Deus, só de homens – incluindo até, sem intenção proposital, eu mesma.

Começou apenas com umas fotos, legendas e stories copiados, junto com a infeliz descoberta de que as pessoas sempre estão mais dispostas a aceitarem uma “versão” sua mais maleável e desprovida de princípios que impeçam a remoção programada das partes indesejadas de seu ser, uma versão desprovida de remorsos que a impedissem de mentir compulsoriamente ou o menor pudor de contradizer mil confissões prévias e sacrificar tão prontamente qualquer vestígio de personalidade própria, pagando indiscriminadamente qualquer preço que fosse necessário para agradar; só que não parou por aí. Era isso o que eu queria, e tentei, dizer quando as palavras me abandonaram; o quanto essa falsidade calculada e montada com retalhos de atitudes minhas me incomodava e me travava, me paralisava ao ponto de repentinamente eu passar a perder o interesse nas coisas que declaradamente sempre gostei e fiz, porque isolando esses retalhos superficiais de mim mesma e dos meus princípios incômodos, essa superficialidade toda parecia ser mais que o suficiente para conquistar e garantir algumas das coisas que eu já quis. E apesar de saber que a minha decisão de buscar viver com profundidade ia me custar caro, aquele preço ainda me doía muito. Me dilacerava, mesmo contra a minha vontade e toda a resistência em admitir. Era isso que eu queria e sentia que devia dizer quando resolvi procurar ajuda, mas não consegui. Pois de todo o acolhimento e aconselhamento que, por diversas vezes eu tanto havia sido instruída a transmitir (e até aquele momento tinha mesmo me esforçado para tal), eu não vi o menor pingo. Foi aí que a primeira dúvida, que conseguia ser pior do que a mera cópia, veio arrastando todas as outras:

E se a famosa neutralidade de julgamento, que tanto era pregada, nunca tivesse realmente existido? Porque eu sempre contei com a possibilidade de estar completamente errada e que não fossem concordar comigo, mas nunca na vida pensei que eu fosse me sentir tão machucada com a sentença prévia de uma falsa juíza que decidiu me jogar na cadeia sem nem antes ter terminado de me ouvir direito, além de silenciar qualquer possível testemunha, e ironicamente era uma das pessoas em que mais confiei. E se tudo o que tantas vezes foi pregado destreza de discurso não resistisse ao primeiro teste de prática? Era como se naquele exato instante os meus olhos finalmente despertassem para mil situações contrastantes com os sermões que antes eu já tinha buscado com tanto esforço anotar e viver, e palavra nenhuma era capaz de descrever o quão enganada e traída eu me senti. E se aquelas pessoas, tão prontas a medirem o tamanho da minha espiritualidade pelos covers que eu fazia ou pela propagação de uma falsa ideia de vida quase monástica de edificação 24hs por dia tivessem, na verdade, coisas muito mais podres com que se preocupar? (quer um spoiler? Elas realmente tinham. Comprovadamente, tinham sim!) E se todos os conceitos que eu abracei nos últimos anos forem baseados em uma imagem vazia, pura e simplesmente vazia? E se a razão por que essas pessoas não conseguem compreender o tamanho do incômodo que esse roubo de personalidade está me trazendo é porque elas mesmas já abriram mão de suas próprias identidades muito antes? O que foi que comprou a essência delas, os diversos presentes caros (alguns dos quais eu também recebi), uma histórica triste com muitos buracos suspeitos, ou a boa e velha bajulação simplesmente? Será que eles passaram a aceitar o que tanto condenaram porque estão escondendo algum podre maior, ou é só pela pura manipulação hábil de suas próprias inseguranças? Será que eu fui mesmo a única pessoa a passar por isso aqui? O que é que eu tô fazendo com essas meninas, será que eu devia mesmo ensiná-las a se adaptarem a esse sistema que agora me parece tão sujo e podre? Ou será mesmo que eu tô ficando louca, e na verdade sou a pior das pecadoras? Onde é que está escrito, na Palavra, que eu não tenho nem sequer o direito de duvidar? Tenho que concordar com tudo porque isso é mesmo certo, ou por que assim fica mais fácil para eles? Por que todas as minhas anotações dos últimos dois anos parecem que estão sempre repetidas, e o roteiro nunca muda em nenhuma célula??? Por que essa reforma não acaba nunca?! Por que uma reunião de “treinamento” focada apenas em deixar os líderes constrangidos por darem uma oferta do mesmo tamanho de seus dízimos, e por que isso é pouco? Para quem isso é pouco? Por que os nossos treinamentos estão sempre mais voltados para a manutenção desse sistema do que para o estudo da Palavra? Por que tal mudança de posicionamento não foi abertamente comunicada à igreja, já que contraria umas mil pregações dele mesmo? Por que eu não me senti confortável com aquele toque? Ou com aquela sugestão meio esquisita no carro que eu nunca tinha nem imaginado? Será que aquele selinho meio na trave foi mesmo só um esbarrão acidental? Será que o motivo para aquela história parecer tão espiritualizada é porque não contém nem um pingo de verdade? Que falsa perfeição humana forçada é essa? Que paraíso na terra é esse que pode vir a existir nesse bairro se ainda estamos completamente contaminados pelo pecado? Como assim a nossa denominação é mais certa que as outras? E sério mesmo que a visão mais certa é essa? Como assim eu devo ter cuidado com um livro que não incorre em nenhum erro teológico só porque esse autor “não entende” o nosso modelo? Por que todas as pessoas me procurando parecem ecoar o mesmo discurso ensaiado, repetido, vazio, estranho e sem sentido? Mas aquelas três são tão inteligentes, não é possível que eu seja a única a estar enxergando isso. E como eu saberia que não sou, se as pessoas são explicitamente proibidas de discordarem? Quem é que vai acreditar em mim? Como foi que eu pude ser tão burra e cega ao ponto de fechar os meus olhos pra tudo isso?

Eu já estava sendo roubada de mim mesma, involuntária e voluntariamente, há muitos anos. Só que eu não tinha me dado conta disso.

O estopim foi só a ponta do iceberg, uma vez que eu me permiti sentir a primeira dúvida, coisa nenhuma era capaz de impedir a avalanche de perguntas que a seguiam. Talvez o real motivo por que as minhas minhas palavras sumiram era o meu enorme medo de fazer as pessoas que eu amava se sentirem o mesmo saco de lixo que eu estava me sentindo. Mas eu descobri que havia um problema muito grande em me fazer de louca: às vezes, a loucura parece ser tanta, que até a gente mesmo acaba acreditando. E, só agora que parece já não restar mais nenhum grande segredo e posso afirmar sem medo que eu não estava louca, consigo perceber o peso dessas palavras engasgadas no meu próprio processo de cura. Continuo não querendo que ninguém sinta essa mesma dor, e é só por isso que agora abro aqui o meu lado da história para quem quiser ver.

É bem provável que esse seja o texto mais doloroso que eu já escrevi, porque não pude revisitar essas sensações todas sem chorar e pausar para me recompor, diversas vezes, nesses últimos dois dias.

Ser de verdade tem, mesmo, um preço; e não é barato. Só que eu ainda acho esse preço mais aceitável de pagar que qualquer outra coisa, que pode até ser bonita de se mostrar, mas pode ser também incapaz de me trazer paz no mesmo tanto. Mas a crise renovou a convicção de que a minha identidade é cara demais para se apoiar apenas em mim, até mesmo quando penso que silenciar os meus sentidos pode parecer a saída mais certa.

REFERÊNCIAS:
Roube Como Um Artista. KLEON, Austin
Hit Makers. THOMPSON, Derek
Mateus 11:28-30
Áudio de Desculpas. GAVASSI, Manu
Misery Business. PARAMORE
Abri os Olhos. SANDY E JÚNIOR.

Changes

Crônicas

12 de Outubro, 2020. Meu pai estava aqui em casa zapeando a TV quando acabou parou em um desenho russo e nós dois ficamos tentando descobrir o que aquilo era – e acho que até agora nenhum de nós dois entendeu do que se tratava direito, confesso.

Em algum momento esse desenho estranho acabou e em seu lugar começou a passar um clipe do David Bowie (sim, eu sei que a combinação foi mesmo aleatória. E não, isso não é uma cena fictícia inventada na minha cabeça). Acontece que o Antoniel, meu sobrinho de sete meses, nunca tinha visto nada do Bowie até então. E acontece também, que apesar de quase ninguém saber disso, o cara é uma das minhas maiores referências artísticas.

Eu não me considero, atualmente, fã de alguma coisa. Admiro várias ideias e pessoas, mas ser fã dá muito trabalho e preguiça; não tenho nem disposição para isso mais. Mesmo assim, quando penso em CRIATIVIDADE, TALENTO e EXCELÊNCIA ARTÍSTICA, o nome do Bowie é um dos primeiros que me vêm à mente. E desde quando vi esse clipe até agora, vira e mexe, a letra de Changes não parou de brotar em meus pensamentos diversas vezes.

Uma vez eu escrevi aqui que não costumo gostar muito de mudanças. E, sendo bem sincera, acho que ainda me sinto bem mais segura quando as coisas não fogem completamente da minha zona de conforto – zona que não deve ter recebido esse nome por acaso, afinal. Mas aprendi, também, que as mudanças são inevitáveis, a despeito de eu querê-las ou não; e que isso pode não ser necessariamente uma coisa ruim.

Depois que a letra dessa música começou a martelar incessantemente na minha cabeça, passei finalmente a perceber que venho experimentando mais mudanças do que me sinto capaz de contar… o que no meu caso qualquer um pode dizer que não é muito difícil, considerando as minhas péssimas habilidades matemáticas, e eu não nego. Anyway, acho que minha mente ainda nem teve tempo de digerir todas elas.

Não é como se todos os meus gostos tivessem mudado completamente, mas hoje sinto que os meus interesses são mais variados do que eu imaginava, e que por muito tempo eles estavam escondidos até de mim. As minhas opiniões, que antes eu julgava tão mais convictas, mudaram sobre tantas coisas: trabalho, política… E até mesmo escrever, que era o que eu mais gostava de fazer na vida, agora parece ter um pouco menos de importância do que antes costumava ter.

É claro que eu ainda amo escrever, mas estou descobrindo novas formas de me expressar e parece que estou gostando bastante delas também. Acho que estou aprendendo a diferenciar melhor o que era mesmo paixão pela escrita e o que era só vontade de me esconder; e continuo a cada dia mais descobrindo que perder a minha vergonha tem lá suas vantagens.

Algumas mudanças foram mais notáveis, como a minha carreira e os meus estudos, mas outras foram bem mais sutis: de uma hora pra outra me vi apegada com um kindle, maratonando temporadas antigas de Masterchef, com o meu cabelo um palmo maior do que eu pretendia a princípio, testando vários hand letterings, gostando de tocar teclado e de comer abacate. Até mesmo o que eu achava que queria antes de começar a quarentena, a essa altura já nem sei se quero mais – e não sei se isso é uma coisa ruim.

Mudar é natural, humano e importante. Clarice Lispector disse que “Só o que está morto não muda!”, e eu acho que demorei muito tempo para perceber que ela tinha razão.

Uai, Geórgia! #03 – [RESENHA] O Pequeno Príncipe, Por Antoine de Saint-Exupéry

Leituras
Resenha do Pequeno Príncipe que fiz para o meu canal.

Uai, Geórgia! #02 -[RESENHA] Sherlock Holmes: Um Estudo Em Vermelho, Por Arthur Conan Doyle

Leituras
Segundo episódio do canal onde estou fazendo as minhas resenhas literárias.

Uai, Geórgia! #01 – [RESENHA] O Grande Gatsby, Livro + Filme (2013), Por F. Scott Fitzgerald

Leituras
Primeira resenha literária que fiz em meu novo canal.

O GRANDE GATSBY: Informações Adicionais

Olá! De boinha aí?

Este texto não foi feito para ser grande não, então vai ser bem resumidinho mesmo só para citar algumas coisas que não quis colocar no vídeo para não encompridá-lo ainda mais:

  • O livro é conhecido como o melhor retrato da década de 1920, “Os Anos Loucos”, e contraria toda a visão romantizada e inocente apresentada nas novelas globais das 18hs;
  • Tanto no livro quanto no filme é palpável o luxo e a ostentação, muito presentes nos Estados Unidos na época (o livro é anterior à Grande Depressão);
  • O adultério é uma das principais linhas de trama encontradas no romance realista de modo geral, e não apenas no Grande Gatsby (Madame Bovary e Dom Casmurro são outros exemplos muito conhecidos);
  • Muitos dos pensamentos declarados no livro por Tom Buchanan fazem eco à visão segregacionista e racista da época. Para vocês terem uma ideia, em 1925, ano da primeira publicação do livro, milhares de membros da Ku Klux Klan marcharam abertamente em Washington, DC;
  • A Lei Seca durou nos EUA de 1920 a 1933, como estipulado na 18ª emenda da Constituição Americana, mas durante todo esse período os traficantes de bebida enriqueceram de uma forma impressionante. O Gatsby dava festas em sua mansão todos os dias, e em todas elas havia abundância de bebidas alcoólicas, o que colaborava para as suspeitas de que ele fosse um desses traficantes;
  • A Crise de 1929, que segundo alguns estudiosos pode ter sido “prevista” pelo livro, teve como epicentro os Estados Unidos, mas se arrastou por todo o mundo por cerca de uma década, abalou as bases do liberalismo clássico e gerou muitos desdobramentos sociais e políticos;
  • Na moda, a década de 1920 é comumente conhecida pelos modelos de Chanel, que alterou tudo o que a Alta Costura tinha até então definido como sinônimo de feminilidade. Esta alteração acompanhou o direito social ao voto em muitos países então recém-adquiridos pelas mulheres, provenientes das campanhas sufragistas;
  • Outra obra muito conhecida de Francis Scott Fitzgerald, que também foi adaptada para as telas de Hollywood, é O Curioso Caso de Benjamin Button, que foi originalmente publicado na revista Collier’s Weekly e depois incluído em seu livro de contos chamado Tales of the Jazz Age.

Todas as referências utilizadas na minha pesquisa pessoal estão incluídas acima nos links.

Perfeição, seres míticos e outros pensamentos

Cristianismo, Textos

Olá! Tudo bem com vocês?

Sei que faz tempo que eu não apareço por aqui, mas não, eu não parei de escrever nem nada (nunca paro, aliás), só ando focada em outros projetos. Um desses projetos, inclusive, é o canal que estou criando no YouTube para falar sobre as minhas leituras e espero compartilhar em breve, que também é a razão de eu nunca ter concluído a série que planejava fazer sobre a Jane Austen – vou acabar fazendo isso por lá. E ainda tem outras coisas que não consigo e nem quero detalhar perfeitamente aqui, quero fazer muita coisa ao mesmo tempo e consequentemente ando meio que negligenciando o blog; mas sempre que eu julgar necessário continuarei vindo aqui e usando este espacinho que construí.

E hoje, dia 06 de março, quero falar sobre uma coisa que tem me incomodado muito, mas muito mesmo, ultimamente. Acho que eu nunca tinha pensado com tamanha clareza sobre isso e por esse motivo não tinha me incomodado tanto, mas agora que penso e vejo me sinto tão brava que não consigo pensar ou falar sobre outra coisa com o meu círculo mais próximo de amizade; ou seja, é esse incômodo me leva a vir aqui e falar sobre, a despeito de quão mal interpretada eu possa ser – ainda que sinceramente eu espere que vocês consigam compreender perfeitamente o que quero dizer, mas estou ciente de que mesmo assim é um risco e estou disposta a correr porque julgo ser extremamente necessário.

Há alguns anos, acho que em 2016 para ser mais precisa, escrevi aqui um texto falando sobre este mesmo assunto que vou abordar hoje. E enquanto o relia agora percebi vários erros de revisão para serem corrigidos assim que eu tiver um tempinho extra, mas caso você decida lê-lo e ver como eu encarava isso antes, estou aqui colocando o link. Só que também percebi agora que não falei realmente sobre tudo o que realmente continua me incomodando até hoje e dissertei mais sobre a coisa toda de um ponto de vista meramente estético que não pretendo explanar hoje; assim como também não tenho mais a pretensão de ser amena com nada do que me está engasgado na garganta.

Porém, quero retomar uma questão que levantei nesse texto anterior: Quando você me olha, o que vê? E note que também estou trazendo de volta a mesma concepção de ver como mero ato biológico e olhar como um exercício que requer mais atenção.

Feita de barro

Acontece que, desses anos para cá cheguei à conclusão que muita gente que pensa que me conhece não me olha, mas apenas me vê; ou mesmo quando pensam que me olham estão mais concentrados na projeção que em suas mentes fizeram de mim do que naquilo que é de fato a verdade. E me desculpe, mas, sinceramente? Eu não quero ser grossa nem nada, mas também quero ajudar a entender que, se você é uma dessas pessoas que têm uma visão muito idealizada de mim, a culpa é sua e não minha; e dizer que você precisa urgentemente parar de fazer isso, não só comigo, mas com todo ser humano por que não é nada saudável.

Eu conheço muita gente, e não estou falando isso para me gabar, mas porque mudei até que muito de casa e escola, fiz vários cursos, amizades que fiz pela internet e mantenho até hoje, pessoas de períodos e cursos diversos com quem eu falava na faculdade, trabalho etc. E mesmo com esse tanto de conhecidos, não me sinto amiga mesmo de muita gente. Penso, inclusive, que eu preferia conhecer menos pessoas e que elas fossem mais próximas a ter de lidar com todas as expectativas alheias que vez ou outra vejo pessoas que não são próximas de mim expressando. E entenda que não estou me fechando para pessoas novas nem nada assim, MAS quero deixar bem claro que, caso vocês me conheçam ou queiram se aproximar de mim daqui para a frente, só gosto de ficar perto de gente que me aprecia pelo modo como realmente sou, e não por como acham ou esperam que eu seja.

O que mais me estranha e ao mesmo tempo me irrita é que isso parece algo óbvio demais para precisar ser dito, mas que se fosse tão óbvio assim eu não estaria aqui perdendo meu tempo escrevendo um textão/desabafo que passa longe de ser a coisa mais agradável que já escrevi, sabe?

A maioria das pessoas que me conhece de lugares diversos sabe que eu sou cristã protestante e que não tenho nenhuma vergonha de assumir isso, e nunca encarei minha crença e modo de vida como pretexto para fazer acepção de ou não falar com pessoas que pensam diferente de mim nem nada. É verdade que o meu círculo mais próximo de amizade também pensa e sente as coisas quase sempre do mesmo modo que eu, mas às vezes tenho a impressão de que pessoas que trabalhavam comigo diariamente me conhecem muito mais do que muitas pessoas que pensam que me conhecem e acham que supostamente sabem tudo da minha vida.

Eu ando muito cansada de me ver explicando constantemente pras pessoas que eu não sou TÃO diferente assim como pensam que sou. Não estou dizendo que não gosto de tratar as coisas com seriedade porque acho que isso é muito importante sim, mas não quero ver mais ninguém me atribuindo um modelo de perfeição que não existe. E sério, mais de uma vez eu ouvi pessoas me falando coisas como “Geórgia não brinca, Geórgia nunca fica brava, Geórgia não dança, Geórgia não faz isso ou aquilo”, sendo que pelo amor do bom Deus, gente! Geórgia pode ser meio doida ao ponto de gostar de ler, estudar e vez ou outra ouvir uma música clássica sim, mas a Geórgia é uma pessoa normal como qualquer outra e faz as mesmas coisas que todas as pessoas fazem – ou quase todas, pelo menos.

Ontem eu estava conversando com um amigo meu, que costumamos nos considerar como irmãos sem nenhum outro tipo de interesse, e falando que uma das coisas que fazem eu me sentir bem perto dele é justamente o fato de ele me enxergar e me tratar como uma pessoa normal que pode ter algumas qualidades sim, mas que também é cheia de defeitos e coisas que precisam ser trabalhadas como qualquer outra pessoa; e algumas outras coisas estranhas que não precisam ser alteradas também. E enquanto a gente falava sobre isso eu meio que fui lembrando que nem sempre foi assim, porque quando nós dois começamos a conversar mais, eu falava algumas coisas e ele respondia algo como “Não acredito que você faz isso, agora estou tendo que reconstruir toda a imagem que eu tinha de você”; sendo que as coisas que eu falava que fazia eram do tipo “Fiquei feliz com alguma coisa; corri para casa, fechei as portas e fiz minha dancinha da vitória ridícula que não mostro para ninguém” ou mesmo entender as minhas ironias, coisa que eu faço direto mas quase todas as vezes tenho que explicar que estou brincando – porque vocês sabem, é claro, que Geórgia não faz essas coisas.

Mas vem cá e me explica aqui uma coisa: desde quando uma pessoa não pode brincar com alguma coisa ou dançar só porque é “séria” e a consideram inteligente? Uma coisa que eu sempre digo tanto para esse amigo específico quanto para meus outros amigos que são mais próximos é que nem eu mesma me suportaria se fosse desta espécie de seres míticos e angelicais que a maioria das pessoas parece pensar que sou o tempo todo. E não estou com isso fazendo apologia aos meus erros e defeitos, mas gente, já passou da hora de sermos realistas: PESSOAS PERFEITAS NÃO EXISTEM, e provavelmente seriam um saco se existissem.

Eu mesma nunca quis ter gente perfeita do meu lado, sempre procurei conhecer e entender os defeitos alheios, e as pessoas que mais aprecio e gosto de ter por perto têm muitas imperfeições, assim como também tenho as minhas. Nunca esperei nada diferente disso, e se possível, daqui para a frente gostaria que ninguém esperasse coisa diferente de mim também.

Excelente, talvez. Perfeita, não!

Neste carnaval eu fui acampar com os jovens de minha igreja, como em todos os últimos nove anos, e o tema deste ano foi “Excelentes”; e gostei muito porque abordou uns pontos que sempre venho remoendo comigo há muito tempo. E tem umas coisas dentro desse tema que eu sempre carrego comigo, e enquanto conversava com a minha mãe hoje fiquei pensando que talvez elas poderiam ser um dos motivos por trás de tantas coisas estranhas que ouço ao meu próprio respeito. E não estou dizendo que as pessoas que façam isso sejam assim por mal nem nada, é só um engano bem enganado mesmo.

Tenho uma outra amiga que me conhece desde que eu tinha… doze anos, penso, então a nossa amizade tem cerca de quatorze anos, e a Bia é uma das pessoas que mais me viu em minhas diferentes fases. Mesmo sendo diferentes em muitas coisas, e a despeito do tempo em que ela morou em Guarulhos, nós continuamos sendo próximas em todos esses anos, e pouca gente me conhece tão bem quanto ela. E um dos motivos que eu acho que contribuem para esta ideia louca que algumas pessoas fazem de mim é o pensamento de que “A Geórgia faz tudo com perfeição”; e sério, eu já escutei isso e a minha reação foi só olhar calada como se a pessoa não soubesse a besteira que estava dizendo.

Acontece que a Geórgia não é essa pessoa doce o tempo todo ou que só acerta em tudo que se propõe a fazer, e a Bia sabe muito bem disso. Mas, ao mesmo tempo, ela também sabe que mesmo quando a gente era adolescente e sem noção nunca fui de levar a vida de uma forma totalmente leviana: sempre gostei de colocar muita dedicação nas coisas que eu fazia, e tenho pra mim que essa mania está intrinsecamente ligada à esta falsa perfeição que gostam de me atribuir. Me lembro que, uma vez, há poucos anos, eu estava almoçando com a família dessa amiga e relembrando as coisas que fazíamos quando mais nova, dando risadas e blá blá blá. Aí não lembro exatamente quem foi que falou isso, mas alguém disse “Mas a Gê sempre foi a mais mente firme das suas amigas, por isso que deu certo na vida. Até quando vocês eram mais novas ela era a menos doidinha”, e nisso o falecido tio dela começou a dizer que sendo assim eu nem precisava “ir para a igreja” então e outras coisas semelhantes; e na hora eu fiquei tão chocada que não consegui explicar que isso passava longe de ser a razão pela qual congrego.

Estava aqui lembrando disso enquanto escrevo e pensando que sim, eu realmente sempre fui dedicada desse jeito desde que me conheço por gente, mas mesmo assim a minha visão era completamente diferente do que é hoje. Antes eu sentia um peso fora do normal buscando uma perfeição que não existe porque me cobrava muito mais que o necessário, pensava que se eu não acertasse as coisas nunca seria good enough. E é verdade que continuo me dedicando muito a quase tudo hoje, mas aquele peso horrível que eu sentia foi embora; não procuro mais fazer bem as coisas para buscar o reconhecimento de outros ou o meu próprio, e me conhecendo como me conheço acredito passar muito longe de qualquer perfeição. Mas sigo tentando dar o meu melhor sempre porque, sinceramente, acredito muito que se for para fazer alguma coisa de qualquer jeito, prefiro nem fazer (e isso não é tão bom ou nobre quanto pode parecer, porque muitas vezes me impede de fazer coisas que eu gostaria e travo por não me sentir capaz).

E tem ainda um outro motivo para eu fazer as coisas do jeito que faço, e confesso que este deveria ser o primeiro e principal motivo (mas é como estou dizendo, não sou nada perfeita): aos meus dezessete anos compreendi que eu devia me dedicar ainda mais a tudo que me propusesse a fazer porque eu não estava fazendo as coisas para outras pessoas, e sim para Deus; e isso é muito mais libertador do que pode parecer, porque apesar de demandar uma dedicação ainda maior, hoje sei muito bem reconhecer os meus limites e me contentar em saber que dei o meu melhor mesmo quando as coisas não saem bem do jeito que espero. E vocês sabem que, infelizmente, nem todo mundo aprendeu a desfrutar dessa liberdade.

Outra amiga minha com quem estive nesses dias de acampamento, a Sah, que inclusive é minha discipuladora, disse que as pessoas tendem a me pintar como esse anjo da Capela Sistina porque prestam atenção demais na maneira como me porto no louvor dos cultos, e eu sei que me entrego mesmo, várias vezes choro; e sendo sincera novamente, eu só sinto que estou mesmo louvando por meio da música quando não consigo pensar em mais nenhuma outra coisa, seja quando estou em casa ou em qualquer outro lugar. Mas isso tampouco me torna perfeita, só se encaixa nessas mesmas duas categorias já ditas de querer fazer as coisas com excelência e fazer tudo como se fosse para Deus. E o engraçado (na verdade é triste e eu tô ficando muito brava com isso) é que às vezes minha mãe me conta que pessoas a procuram nos cultos para falar que me admiram e ela só responde que sou no templo do mesmo jeito que sou em casa, mas ultimamente em vez de me sentir lisonjeada com isso eu passei a me perguntar se de algum modo as pessoas me imaginam só ouvindo e assistindo músicas e coisas que me edificam o tempo todo, como se eu nunca risse por um meme bobo, fosse irônica ou brincasse e só lesse livros de grandes autores conceituados – e perdão se estou ferindo alguma convicção que você possa ter ou coisa assim, mas repito que não acredito na existência de pessoas desse tipo.

Mas quem é esta Geórgia afinal?

Eu passei a maior parte deste texto falando sobre como não sou, então até mesmo para dar uma variada, achei melhor falar um pouco de como sou – mas não vou falar tudo também porque, quem quiser me conhecer mesmo, precisa aprender a conversar comigo em vez de ficar só lendo os meus textos.

De maneira geral, a Geórgia é meio esquisita (completamente esquisita, dependendo do seu ponto de vista). Ela gosta muito de escrever e ler, mas também gosta de passar a tarde rindo com os memes mais idiotas. Quando faz alguma brincadeira ou piada, entretanto, quase nunca é bem compreendida porque tem aquele tipo de humor CQC (na época que ainda prestava). A Geórgia também aprendeu a sambar quando tinha seis anos de idade, mas só samba quando está muito inspirada na zoeira; e um de seus passatempos prediletos é montar coreografias ridículas e secretas para músicas indies, coreografias estas que sai dançando na frente de seu cachorro dia sim, dia não. Ela nunca parou de ouvir John Mayer ou outras músicas seculares, mas passou a aplicar o filtro de Filipenses 4:8 em todo tipo de conteúdo que consome depois que se converteu. A Geórgia também gosta de conversar sobre Política, Economia e outras questões relevantes para a sociedade, mas só com quem consegue entender a aleatoriedade de seus pensamentos e que no segundo seguinte a uma reflexão aparentemente profunda ela pode estar desenterrando alguma musiquinha da Disney ou do Castelo Rá-Tim-Bum, e que isso é um processo incontrolável e automático. Além disso, ela também gosta de ler tanto Machado de Assis quanto graphic novels, e uma coisa não exclui a outra.

A Geórgia também é muito atrapalhada, vive esbarrando em paredes e encontrando hematomas de que nunca consegue se recordar da origem; não gosta de sair se expondo tanto assim para gente que nem conhece direito, e por isso prefere parar de escrever por aqui.

Por que ler Jane Austen hoje? Cinco motivos para conhecer esta autora incrível!

Leituras

Olá! 

Na última crônica escrita aqui eu expressei minhas opiniões sobre o que eu entendo como o real sentido de feminilidade no século XXI, etc. Se você quiser saber um pouco mais sobre o que eu penso a respeito disso para algumas contextualizações antes de começar a ler este novo texto, basta clicar aqui.

Mas hoje, eu finalmente estou começando uma sessão do blog que já era para ter saído há tempos; e depois de ter pensado muito sobre quais livros deveria ou não descrever, cheguei à conclusão de que não existe pessoa melhor para esta introdução às minhas leituras do que a Jane Austen, que é a minha musa.

Quem foi Jane Austen?

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Anne Hathaway interpreta a escritora em Becoming Jane (2007), traduzido para o Brasil como Amor e Inocência

Jane Austen é também erroneamente conhecida como uma solteirona que escreveu romances de época, bem água com açúcar. Mas, como acabei de dizer na sentença anterior, enxergá-la desse jeito deve-se muito a uma incompreensão tanto da história da autora quanto de seus respectivos livros.

Inclusive, só para vocês terem uma noção de como ela é muito incompreendida, dando uma procurada na internet e/ou livros recentemente criados vocês podem verificar que Jane é aclamada tanto por conservadoras quanto por feministas por motivos auto-excludentes! “Como isso é possível?!”, você pode me perguntar, e eu respondo que normalmente cada um enxerga a escritora que quer.

Por exemplo, as conservadoras cristãs costumam apontá-la como exemplo de recato e tudo o mais. E eu como cristã, ainda que não me encaixe muito na parte conservadora, concordo que a obra da Jane retrata sim muitos valores cristãos; mas isso não a isenta de ter feito críticas ácidas ao exercício do ministério anglicano como exclusiva fonte de renda e interesses, quando não havia nenhuma vocação.

E por outro lado, as feministas também costumam usar as suas personagens femininas mais fortes como figura de um protofeminismo, se é que assim podemos dizer. Quanto a isso, eu não concordo totalmente com essa visão porque acredito que muitas outras coisas podem e devem ser analisadas antes de fazer essas afirmações, até mesmo porque o protofeminismo em si já é um termo contraditório entre os próprios estudiosos do assunto. Nesse quesito só me cabe concordar que é inegável dizer que a Jane foi uma mulher a frente de seu próprio tempo.

A visão que eu particularmente gosto de ter sobre essa mulher incrível é que ela teve princípios e convicções firmes, foi inteligentíssima e muito criativa. Austen tinha um espírito muito crítico sobre a sociedade que transitava entre as eras georgiana e vitoriana em que viveu e de fato amou, ainda que não tenha podido viver esse amor porque “não tinha o berço desejado”.

Dito isso, vamos partir para o que realmente importa.

Motivos para ler Jane Austen hoje:

1. Ela não escreveu livros bobos para mulherzinhas bobas

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Cena de Orgulho e Preconceito

Também é comum que as pessoas a associem a obras de época muito rasas, como a novela recentemente inspirada em seu maior sucesso de todos, que é Orgulho e Preconceito. E embora esse seja um pensamento bem comum, nem por isso deixa de ser um engano.

Eu sou muito apaixonada por História e Literatura, então confesso que mesmo se os livros dela não fossem tão bons assim, acho que leria por curiosidade. Mas a segunda coisa que mais me encanta nela é justamente a visão ácida sobre a sua sociedade e o tom de ironia refinada adotado para retratá-la — a primeira coisa  que me atrai é que os livros são muito bem escritos.

Essa mesma ironia é o motivo de Jane ser tão mal interpretada como uma autora leve demais, porque se você fizer uma leitura desatenta vai perder muitos detalhes pequenos e importantes que mudam todo o sentido das histórias.

2. Ela é uma romancista até que muito racional

elinor dashwood

Hattie Morahan como Elinor Dashwood, na adaptação de Sense and Sensibility feita pela BBC em 2008

É claro que, se você estiver passando por uma fase difícil, estiver na TPM ou se identificar demais com alguns personagens e situações, pode se debulhar em lágrimas e não reconhecer a racionalidade por trás dos livros de Jane Austen. Pode até acontecer, e já aconteceu comigo — mas sua interpretação pessoal não pode ser considerada culpa ou intenção primordial dela ao escrever.

Se você gosta muito desses romances atuais, cheios de clichês e rios de lágrimas, ouso dizer até que pode achar os livros entediantes. Eu me lembro que quando comecei a ler Orgulho e Preconceito pela primeira vez achei até um pouco monótono antes de me acostumar, mas esse é justamente o terceiro motivo para hoje eu preferir os livros dela: eles não apresentam nada parecido com esse sentimentalismo barato e exagerado.

E não sou só eu que penso isso, Charlotte Brontë, a famosa autora de Jane Eyre, a chamou de “sem sentimentos”. O motivo para as críticas ferozes de Charlotte teria sido inveja após a recomendação de um tal senhor Lewes (que desconheço) para que ela fosse menos melodramática e se inspirasse mais em Austen. E, realmente, quem optar por ler os seus livros não vai encontrar muito melodrama não.

*Entenda que estou me referindo especificamente a melodramas quando falo isso, e não a todas as reviravoltas típicas de romances no geral.

3. Ela criou personagens femininas fortes

Keira Knightley interpretando Elizabeth Bennet em Pride and Prejudice, em 2005

Não vou mentir falando que todas as personagens são mulheres fortíssimas e bem resolvidas, porque mesmo se você só tiver assistido aos filmes vai se lembrar da Lydia, que passa longe de ser a minha preferida.

Mas uma coisa que eu também notei, é que algumas personagens aparentemente fracas, como a Fanny em Mansfield Park e a Marianne, em Razão e Sensibilidade, começam fraquíssimas e vão se desenvolvendo ao longo da trama. O mesmo princípio também se aplica à Anne Elliot, do meu segundo romance preferido dela, que é Persuasão — quando mais nova ela se deixa influenciar por uma escolha diferente da sua própria, mas no decorrer da história ela vai crescendo e ganhando força.

Fora essas personagens citadas acima, há também Elinor de Razão e Sensibilidade, que desde o começo do livro já se mostra uma mulher muito forte; e Lizzie, minha preferida, a heroína de Orgulho e Preconceito que é uma mulher fantástica.

Ainda não li Emma e Northanger Abbey para saber avaliar suas protagonistas com propriedade, talvez futuramente eu as inclua em uma nota por aqui.

4. Ela escreveu o livro que recebeu a melhor adaptação para filme que consigo me lembrar

Minha cena favorita do filme

Quando eu era mais nova, tinha mania de assistir aos filmes e ler os livros procurando defeitos. Hoje a Geórgia de 25 anos sabe que são duas linguagens e propostas diferentes, essas coisas todas que gente mais esclarecida costuma explicar e etc., mas nem toda vida foi assim.

Mas quando eu penso em Orgulho e Preconceito, e na sua versão cinematográfica mais famosa, aquela de 2005 com a Keira Knightley e o Matthew MacFayden, eu não consigo achar defeitos; não só isso como procuro assisti-la pelo menos uma vez por ano na Netflix — às vezes mais.

É claro que, como esse é o meu romance preferido, eu sou suspeita para opinar. E também não vou dizer que eles conseguiram colocar todos os 61 capítulos na tela, porque se você assistir ao filme procurando por isso com certeza vai se frustrar.

No entanto, o que eu gosto nessa adaptação é que, como o livro foca muito nos diálogos e densidade dos personagens em detrimento das paisagens, tudo o que foi filmado se apresenta como um bom complemento. Falas importantes foram bem preservadas, os atores combinaram muito com seus respectivos personagens, e a fotografia é perfeita!

5. Ela ainda é fonte de inspiração para mil romances

Clueless é uma releitura de Emma!

Muito do que se lê hoje é copiado ou totalmente inspirado nos escritos dela. Então, por que não ir direto à fonte e descobrir o encanto que até hoje deixa tantas  outras autoras inspiradas?

Nem Amélia, Nem Girlboss

Crônicas

Sei que há o risco de eu ser mal interpretada enquanto leem este texto específico, mas sinceramente? Eu venho ruminando essas ideias dentro de mim há aproximadamente dois anos, e decidi correr o risco mesmo assim.

Quando a gente pensa em feminilidade, feminismo ou assuntos relativos às escolhas de vida da mulher geralmente surgem dois modelos: aquele primeiro e ideal machista, mais raro atualmente, da Amélia que não tinha a menor vaidade, e que por isso sim era mulher de verdade (???); ou o segundo mais condizente com os nossos dias, da mulher extremamente segura de si, bem resolvida e independente, todo o conceito que a Sophia Amoruso materializou como Girlboss.

Mas e se eu não me identificar com nenhuma delas? Porque nenhum dos dois modelos me representa, e a cada dia que passa me sinto mais livre por ter chegado a essa conclusão.

Até porque vamos combinar, né? Se teve uma coisa que aquela onda de “Bela, recatada e do lar” fez, em 2016, foi mostrar que essa ideia da mulher “sem vaidade”, que não se cuida, nunca liga para si mesma etc., já foi rejeitada até mesmo pelo próprio machismo – e entenda que não estou aqui criticando a escolha pessoal de vida da Marcela Temer nem nada semelhante, mas achei no mínimo curioso a tentativa de alavancá-la como o padrão de mulher a ser seguido. Não sei vocês, mas eu pelo menos não tenho nenhuma empregada e nem me lembro se já fui à dermatologista alguma vez na vida.

Mas também não me sinto nenhuma Girlboss, e não me sinto em nada inferior por isso.

Alguns de vocês, imagino, devem saber que eu até li o livro. Eu já estava cogitando a chance de virar freelancer no ano passado, via o título em várias fotos descoladas no Instagram e tudo o mais; aí pedi e ganhei no amigo secreto da empresa em busca de inspiração. E não vou dizer para vocês que é um livro ruim nem nada porque é até engraçadinho, tem uma leitura bem fluída, uns desenhinhos legais, várias frases motivacionais e feministas do tipo “Você é mulher e nada a impede de ser bem-sucedida! Você é totalmente capaz!” e blá blá blá. Mas vou confessar a vocês que, quando passei a conhecer um pouco mais a fundo a parte da história da Sophia que não é contada no livro e nem na série, percebi que tampouco queria me parecer com ela também.

Não sei se a gente só vai aprendendo essas coisas com o passar dos anos, mas precisei silenciar muitas vozes externas antes de poder encontrar a minha própria; precisei aprender a questionar, como já escreveu Mariliz, por que “A mão que bate em Marcela não bate em Marisa, tal qual primeira-dama decorativa”. E aí percebi que eu nunca me senti verdadeiramente inferiorizada por ser mulher, mas os discursos contrários eram tantos e em todos os lugares, que minha própria experiência pessoal não parecia ter nenhum efeito.

Não posso dizer que com todo mundo foi assim, seria muita fantasia da minha parte pensar isso. Mas voltando à minha experiência, eu sempre fui incentivada a estudar e me dedicar a tudo o que eu quisesse, desde as aulas de Ballet e Kung fu até os mil cursos técnicos de Gestão Empresarial à Comunicação Visual. Em todo tempo as pessoas costumavam me elogiar pela minha inteligência e capacidade, como fazem até hoje.

Meu pai é uma daquelas pessoas que odeiam qualquer menção ao feminismo, sabe? Mas foi ele mesmo quem correu atrás de pagar todos esses meus caprichos, e uma vez quando eu tinha dez anos quase quebrou o meu nariz porque nós dois estávamos jogando futebol e ele simplesmente se esqueceu que tinha no mínimo umas três vezes o meu peso e tamanho – eu nunca mais fui tratada de forma tão igual, depois disso 50% de todo o resto me pareceu privilégio.

Se eu resolvi postar esse texto agora, a despeito de todos os xingamentos ou reações que podem vir dele, é porque eu realmente gostaria de compartilhar isso com tantas mulheres quanto possíveis. Você não é livre porque um movimento ou ideologia assim o diz, o que realmente pode trazer liberdade é o reconhecimento de quem você é, de onde veio e para onde vai. E hoje sim, posso afirmar que me sinto mais convicta da minha identidade do que jamais estive.

Eu amo estudar e trabalhar, mas também quero aprender a cozinhar melhor. E não quero fazer isso apenas para me enquadrar em um padrão de “mulher pra casar”, quero cozinhar porque gosto muito de comer. Que problema há nisso?

Já passou da hora de deixar as mulheres serem de fato livres para o que decidirem ser de verdade.

Pra você lembrar que a vida não é tão complicada quanto parece ser

Crônicas

Sabe, eu já perdi as contas de quantas vezes acessei o Google procurando respostas para toda dúvida que brotasse, ainda que só um pouquinho, em minha cabeça. E sei que não sou a única a fazer isso, porque do contrário nunca teriam inventado alguma coisa como o Wikihow.

Mas hoje de manhã eu estava aqui pensando e me perguntando se tudo na vida é realmente tão complicado quanto eu penso ser. Porque várias das coisas que muitas vezes penso não terem respostas, quando presto mais atenção percebo que já foram respondidas; e se é assim comigo, acredito que também possa acontecer o mesmo com você.

Pensando nisso, comecei a montar uma lista de lembretes para uso pessoal que talvez também possa ser útil a quem mais interessar:

  1. Simplifique sempre que puder e for realmente necessário. Por que complicar quando é possível fazer o contrário? Algumas coisas são de fato complicadas, mas outras só o são porque as permitimos ser.
  2. Já inventaram o diálogo, o pombo-correio, carta, telegrama, telefone e Código Morse, para não falar em todas as demais redes e mídias sociais. Nenhuma dessas maravilhosas invenções do mundo da Comunicação vão servir para aproximar quem não faz a menor questão de estar perto de você. E a despeito de quanto você queira ou espere, persistir no erro não vai fazer nada além de lhe machucar. Reconhecer a hora de desistir e partir também faz parte.
  3. Falta de tempo nunca será um motivo válido para não fazer o que você gosta de fazer. Você passa gasta mil horas no transporte público e nem por isso deixa de ler, ouvir música ou assistir séries. Porque quando algo é importante mesmo a gente sempre dá um jeito.
  4. Mudar é natural, só o que está vivo muda.
  5. Cansar também é natural. Uma hora acontece.
  6. Amor escondido nunca serviu de nada para ninguém. Se o seu amor nunca se converte em ações para o outro, então não é amor. E se nunca te muda em nada, provavelmente não é amor também.
  7. A música pode melhorar o seu dia. Mas se você não tomar cuidado, pode piorá-lo também.
  8. Nenhum DeLorean modificado vai aparecer e te ajudar a voltar no tempo para consertar suas bostas, então é melhor pensar duas vezes.
  9. Fugir nunca foi resposta para nada, e nunca será.
  10. Se lembre de permanecer leve, mesmo com todos os apesares. Ainda é uma escolha, embora também não exista outra opção.

Eu poderia enumerar mais mil coisas, mas não vou. Não existe ninguém melhor que você para montar e continuar a sua própria lista.

O importante é ter sempre em mente que a vida não pode ser tão complicada quanto parece, porque nada realmente é. E se você nunca vê as mudanças que espera dos outros, por que não mudar você mesmo? Sempre é tempo.