Ninguém me vê como Ele me vê

Estudos Bíblicos, Textos

E aí, tudo bem com vocês?

Eu tinha planos de tentar escrever ao menos um texto por semana esse ano, mas por enquanto a minha rotina corrida ainda não está me permitindo. Espero que isso mude e talvez em pouco tempo tenhamos novidades, mas por enquanto nada definido.

Correrias a parte, hoje quero falar sobre um assunto que vem queimando em mim há dias. E olha que eu não sei nem por onde começar!

Eu tenho conversado com algumas pessoas recentemente, e quanto mais dessas conversas tenho percebo como posso contar nos dedos quantas pessoas me conhecem de verdade, E não falo isso como forma de culpá-las ou coisa assim, porque nos últimos dois anos tenho mudado tantos conceitos que para mim pareciam definitivos, que até mesmo eu ainda estou (re)aprendendo a me conhecer de verdade.

E aí que me choca a ideia de que, quando nem eu mesma acho que me conheço o suficiente, saber que existe um Deus que me conhece íntima e profundamente, de um jeito que nenhum outro ser respirante é capaz de me conhecer. Parece meio louco quando tentamos racionalizar isso, não? Mas venho experimentando isso recentemente de tantas maneiras, que não consigo sequer contá-las sem me perder – espaço livre para inserir aqui sua piada sobre a pessoa ser de humanas e blá blá blá.

Não posso contar tudo o que vem acontecendo aqui dentro porque não quero atrapalhar a ordem natural (ou sobrenatural, melhor dizendo) dos acontecimentos, mas lhes asseguro que não é coisa pouca. Minhas certezas têm mudado bastante, os meus planos são quase que completamente outros agora; e mesmo sobre outras coisas que eu pensava já não querer, não posso mais afirmar que ainda me sinto tão resistente como outrora.

No meio de todo esse processo, mais que uma vez já me peguei dando explicações sobre coisas que achavam que eu queria ou então que eu era, situações muito desconexas da minha realidade. E por incrível que pareça, eu não me incomodei em fazer esses esclarecimentos simplesmente porque me apetece a ideia de que as pessoas à minha volta saibam como sou: carne, osso e alguns probleminhas. Gente como a gente, não sou nenhuma personagem de romance de época, a mocinha da novela das seis ou qualquer coisa do tipo.

Há algum tempo eu estava lendo o livro de Gênesis, e encontrei algo que me chamou a atenção:

1 Ora, Sarai, mulher de Abrão, não lhe dera nenhum filho. Como tinha uma serva egípcia, chamada Hagar, 2 disse a Abrão: “Já que o Senhor me impediu de ter filhos, possua a minha serva; talvez eu possa formar família por meio dela”. Abrão atendeu à proposta de Sarai.

3 Quando isso aconteceu, já fazia dez anos que Abrão, seu marido, vivia em Canaã. Foi nessa ocasião que Sarai, sua mulher, entregou sua serva egípcia Hagar. 4 Ele possuiu Hagar, e ela engravidou.

5 Quando se viu grávida, começou a olhar com desprezo para a sua senhora. Então Sarai disse a Abrão: “Caia sobre você a afronta que venho sofrendo. Coloquei minha serva em seus braços e, agora que ela sabe que engravidou, despreza-me. Que o Senhor seja o juiz entre mim e você”.
6 Respondeu Abrão a Sarai: “Sua serva está em suas mãos. Faça com ela o que achar melhor”. Então Sarai tanto maltratou Hagar que esta acabou fugindo.

7 O Anjo do Senhor encontrou Hagar perto de uma fonte no deserto, no caminho de Sur, 8 e perguntou-lhe: “Hagar, serva de Sarai, de onde você vem? Para onde vai?”
Respondeu ela: “Estou fugindo de Sarai, a minha senhora”.
9 Disse-lhe então o Anjo do Senhor: “Volte à sua senhora e sujeite-se a ela”. 10 Disse mais o anjo: “Multiplicarei tanto os seus descendentes que ninguém os poderá contar”.
11 Disse-lhe ainda o Anjo do Senhor: “Você está grávida e terá um filho, e lhe dará o nome de Ismael, porque o Senhor a ouviu em seu sofrimento. 12 Ele será como jumento selvagem; sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele, e ele viverá em hostilidade contra todos os seus irmãos”.

13 Este foi o nome que ela deu ao Senhor que lhe havia falado: “Tu és o Deus que me vê”, pois dissera: “Teria eu visto Aquele que me vê? “

Gênesis 16:1-13, NVI

Vou tentar fazer um resumo para quem não conhece essa história. Basicamente, foi o seguinte:

Deus tinha prometido a Abraão que ele seria pai de multidões e que os seus descendentes seriam tantos quanto as areias do mar, impossíveis de se contar, o que sabemos que, a julgar pelo tanto de judeus que existem, de fato a promessa se cumpriu. Só que, antes que isso acontecesse, a mulher dele, que na época ainda se chamava Sarai, era estéril. E aí que parece meio difícil ser pai de multidões quando não se consegue ter nem mesmo um único filho, não?

Essa história me chama a atenção de muitas maneiras. Primeiro porque, diante da impossibilidade de gerar um filho, Sara ofereceu a sua empregada ao marido para que ele pudesse gerar um filho através da empregada. Acontece que eu não conheço nenhuma mulher tão abnegada assim, tão pronta a usar a uma barriga de aluguel sem nem recorrer a uma inseminação artificial nem nada… Definitivamente não é o tipo de coisa que eu faria. Mas, considerando o contexto histórico-cultural daquela época, a desonra de não poder gerar filhos era tão grande que ela preferiu permitir que o marido engravidasse outra mulher – e não vou nem comentar sobre a facilidade com que Abrão teve em aceitar o plano da esposa tão prontamente.

E é aí que surge Hagar, uma mulher tão curiosa que até então nem sequer havia sido mencionada. Apesar de ser descrita como serva, e mesmo sem saber se minha teoria é válida ou não, eu costumo imaginar Hagar como sendo uma escrava. Porque tanto Sarai como Abrão se referem a ela como a um objeto sujeito a qualquer uma de suas decisões, logo não consigo enxergar nela qualquer grau mínimo de autonomia. Hagar era uma posse de sua senhora, e quem sabe tenha visto nesse plano a chance de alcançar a sua tão sonhada liberdade. Afinal, se ela gerasse um herdeiro, por que não poderia ela mesmo se tornar a senhora? A humilhada seria exaltada, e seus dias de luta teriam um fim.

Outra coisa que eu imagino quando leio esse trecho é que, apesar de ser escrava ou qualquer coisa perto disso, prática que infelizmente era comum naquela época, Hagar não devia ter tanta coisa assim para reclamar. Primeiro porque, para bolar um plano tão maluco assim, Sarai devia no mínimo ter muita confiança nela; por si só o plano já era arriscado demais (tão arriscado que nesse trecho já mostrou não ter dado muito certo, o que só se confirmou mais pra frente e até os dias de hoje, não é mesmo?), tanto mais seria dando tamanha ousadia a uma louca que não fosse de sua confiança. E segundo porque, Sara foi queixar-se da serva até que o marido lhe desse permissão para atormentá-la e se vingar; o que me leva a concluir que até então as duas não tinham nenhum grave problema de relacionamento – tantos anos lendo romances policiais me deixaram com mania de escrever assim, quase uma Xeroque Rolmes da vida.

Ou seja, o quadro de Hagar era o seguinte: duas vezes traidora de sua senhora. Duas vezes, sim. Alguém poderia dizer “Mas foi Sarai quem teve essa ideia idiota”, porque sim, foi uma ideia muito idiota mesmo; mas em momento algum há aqui se vê aqui o menor traço de intenção da serva em contrariá-la, certo? Hagar se aproveitou do desespero da esposa para se beneficiar. E não satisfeita com todos os benefícios que já receberia por ser mãe de um herdeiro, ainda virou-se contra aquela que foi a primeira a ajudá-la. Se isso não é traição dupla, não sei o que mais seria.

Acontece que eu vejo em Hagar um sinal que mesmo no princípio já começava a apontar para a Graça. Reparem que o anjo não aprovou em nada a sua conduta, mas ainda assim se preocupou com ela, com sua jornada e seu destino. Ele a aconselhou, lhe apontou uma direção e ainda fez uma promessa que alcançaria a sua posteridade; promessa esta que se cumpriu e deu origem ao povo árabe. Alguém pode até argumentar que nem tudo na promessa eram flores, mas ainda assim me parece bem mais do que ela merecia.

Hagar conhecia melhor que ninguém as suas mazelas, talvez ela tenha fugido no primeiro sinal de pressão por ver-se como indigna diante dos meios que tinha usado para atingir os seus objetivos. E qual de nós também já não se sentiu indigno por conta de seus atos, das nossas vergonhas escondidas que a maioria das pessoas não conhece? Pelo menos nesse aspecto, Hagar não me parece muito diferente de nenhum de nós. Ela foi descoberta, em um instante deparou-se com quem era capaz de desnudar sua alma por completo (v. 13). E obviamente esse encontro a deixou com vários pontos de interrogação, não tinha jeito de passar despercebido.

Sabe, na última vez que eu li esse texto me senti um pouco como Hagar. Não me vejo concordando com um plano tão maluco quanto o delas, mas acho que a Graça desperta esse estado em qualquer ser humano, essa total nudez de alma seguida por favor imerecido. Porque ainda que poucos me conheçam direito, Ele me vê: Ele sabe quantas vezes já me peguei lutando contra o orgulho, e quantas nem sequer tentei lutar. Sabe o que me enfurece, o que me entristece e o que me move, assim como o que faz meus olhos brilharem. Ele me enxerga muito além da minha cara de boazinha, sabe bem o que há de pior em mim; conhece todos os meus medos, e não satisfeito em apenas me tirar aos poucos cada um deles, todos os dias me concede uma chance de melhorar. E olha que melhorar não é coisa fácil, exige paciência – Ele só pode ter mesmo muita paciência para não me largar.

Para finalizar esse texto antes de dormir, quero compartilhar uma coisa que descobri no ano passado quando uma amiga e eu decidimos participar da conferência Pink Punch. O Rodolfo Abrantes é um dos caras que eu mais admiro hoje, e ele faz parte da minha vida praticamente desde que eu tinha uns seis pra sete anos de idade e não fazia a menor ideia do que as letras dos Raimundos significavam. Enfim, ele estava lá nessa conferência para jovens moças, e logo no primeiro dia já falou que nem sabia direito o que dizer porque nunca tinha pregado para tanta mulher junta; mas aí, no dia seguinte, sua esposa lhe lembrou que aquela já era a segunda vez que isso acontecia, e na primeira vez que ele estava ministrando para mulheres surgiu o espontâneo de Isaías 9: em uma penitenciária feminina.

“Ninguém me toca como Você,
Ninguém me vê como Você me vê;
Faz brilhar Teu rosto sobre mim.”

E tá que mesmo antes de saber isso essas palavras já tinham um significado muito forte para mim, mas hoje eu não consigo pensar nelas sem meus olhos lacrimejarem ao imaginar a história de vida daquelas mulheres que ouviram a melodia pela primeira vez, a bagagem que elas devem ter e como se sentiram ao ouvir isso.

É uma sensação tão intensa que eu não me sinto minimamente capaz de descrever. É graça sobre graça, e eu não tenho mais nada a dizer.

Caso não conheçam a música que falei:

Até!

Que reino?

Cristianismo, Estudos Bíblicos

Este é outro texto planejado há tempos. Acho que por volta de uns quatro meses, se não me engano. Na verdade foi o primeiro tema que me passou pela cabeça, mas não quis tocá-lo antes de esclarecer minha visão sobre Fé e Graça, e agora que me deparo com a possibilidade de escrever sobre o Reino enfim, não sei se as palavras hão de me ajudar. De fato é um pouco mais complicado que os dois temas anteriores, sobre os quais já tinha lido um tanto há respeito, e agora enquanto escrevo me sinto um pouco só.

Primeiramente, preciso voltar um pouco e esclarecer algo que escrevi no meu primeiro texto sobre Fé. Falei que quando olho para a perfeição e cada detalhe minucioso da natureza não consigo enxergar nenhum motivo mais plausível que um Criador cuidando de tudo isso, o que é verdade. É completamente plausível para mim, porque creio e sou cristã, mas sei perfeitamente que os mesmos motivos soariam absurdos para alguém que fosse ateu, por exemplo. No entanto, escrevi como uma maneira de justificar a minha fé pessoal, e não como apologética – outras pessoas já fizeram isso de maneira muito melhor do que eu me atreveria a tentar explicar, Norman Geisler e Frank Turek por exemplo. Mês passado li um livro, O Problema do Sofrimento, onde o C.S. Lewis fala muito melhor que eu sobre isso, e como antes de se converter ao cristianismo foi um ateu convicto durante vários anos, a visão que teve sobre o assunto e a maneira muito racional como ele consegue explicar tudo detalhadamente são muito mais relevantes que qualquer coisa que eu já tenha pensado em tentar escrever, por isso sempre recomendo todos os livros dele.

Para finalizar esse assunto, digo que a relação e influência da natureza sobre a minha fé é aquela descrita em Romanos 1.18-22. Na minha cabeça as três coisas se encaixam como uma sequência muito lógica: A) Creio que Deus existe, criou o Universo e, apesar de ter tanta coisa mais importante para se preocupar, ainda assim me conhece a ponto de saber a quantidade de fios de cabelo em minha cabeça (Lc 12.7); B) Crendo, me sinto apta a desfrutar da Graça de Jesus, mesmo sem merecer ou entender; C) Tendo conhecido tão maravilhosa Graça, meu coração anseia pelo Reino. É impossível separar em coisas distintas, porque esse favor imerecido me leva a ser constrangida (2Co 5.14a) de tal modo que se amo a Deus é definitivamente porque Ele me amou primeiro (1Jo 4.19); e tendo um coração tão grato diante disso a minha resposta pronta desejar o Reino de Deus. Eu diria até que é a consequência natural e mais óbvia, mas na verdade não é algo tão natural assim porque natural mesmo seria viver conforme a nossa carne diz, e o Reino de Deus é uma daquelas coisas que se discernem espiritualmente (Gl 5.17; 1Co 2.13-14).

Mas antes de explicar o que, meditando nas Escrituras, entendi como sendo o Reino de Deus, penso ser muito útil tentar esclarecer o que ele não é.

O QUE O REINO NÃO É:
1. REINO DE DEUS ≠ TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

O Reino de Deus não é, por exemplo, o que eu vejo na TV pessoas dizendo que seja. Não estou dizendo que nenhum televangelista esteja preocupado com o Reino em si, porque não me acho capaz de apontar o dedo ou a pedra na cara de ninguém, mas nas poucas vezes em que parei, me sentei e tentei assistir alguns vi muita coisa contrária ao que a própria Bíblia diz, e aí mudei de canal.

Particularmente, eu admito que tenho muito cuidado quando escolho ouvir determinado pastor ou pregador, seja pessoalmente ou no Youtube, e principalmente na televisão; não por não reconhecê-los como autoridades espirituais ou coisa assim, mas justamente porque creio que, sendo espiritual essa autoridade, precisa ser exercida com muito, mas muito, cuidado mesmo, e totalmente apoiado naquilo que a própria Palavra de Deus diz (Gl 1.6-9, Js 1.7-8). E muitas das vezes que respondo essa minha visão sobre a Palavra, é comum eu ouvir que a) A Bíblia foi escrita por homens, blá blá blá; ou b) Existem várias interpretações diferentes, e cada um distorce as Escrituras a seu próprio favor e etc.

Acho que não escrevi sobre isso ainda, mas este assunto é tão vasto que merece um outro texto específico, e por isso não vou me exceder demais no tema; digo apenas sobre a segunda alternativa que, primeiro que distorcer a Bíblia a seu próprio favor é algo totalmente contrário ao Reino de Deus (Pv 30.5-6), mas o que acho mais engraçado nisso é que várias das pessoas que me alegam esse argumento nunca leram todos os livros sagrados, e quando decidem estudar afinco algum desses livros geralmente costumam  procurar por alguma palavra específica para justificar que tal comportamento reprovável não é tão condenável assim, e começam a pegar versículos isolados desprezando todo o seu contexto ou a complementação que os outros livros sagrados dizem a respeito – mas se você tiver convicção que de fato está agradando a Deus com sua postura, qual a necessidade de fazer um esforço tão contraditório para explicar sua discórdia, ou mesmo atacar alguém? Acho desnecessário, mesmo, e totalmente contrário ao que Paulo escreveu em Gálatas 1.10.

Não estou dizendo que não existam pontos de discórdia (afinal, acabei de dizer que não assisto os televangelistas porque tenho vários pontos de discórdia), mas não acho que sair maldizendo e xingando todo mundo que pensa de uma maneira diferente seja a melhor maneira de lidar com isso. Creio que no caso de erros doutrinários, cedo ou tarde estes acabam se revelando sozinhos (Mc 4.22) sem que haja necessidade de outra postura errônea.

Mas enfim, o meu principal ponto de discórdia com o “evangelho” que vejo sendo pregado na TV e em outros veículos midiáticos, apesar de não apenas neles, é a Teologia da Prosperidade. E não quero usar este texto como forma de atacar denominação X ou Y, mas ainda não vi algo tão nojento e danoso no meio cristão como essa mania de distorcer que Cristo foi à cruz para que tenhamos o carro do ano, uma mansão e uma casa na praia com iate e etc, sério. Eu não consigo nem entender como isso pode ser chamado de Evangelho, porque embora a Bíblia fale sim sobre a provisão e prosperidade do Senhor para com o seu povo, também diz que o Reino de Deus não consiste apenas em coisas físicas como o pão e a bebida (Rm 14.17) ou mesmo a roupa do corpo (Mt 6.31-32), e que pode até ser preferível comer pão seco a banquetes em uma casa sem tranquilidade e paz (Pv 17.1); e em caso de dúvidas acho que o melhor exemplo de que o Reino não deve ser medido pelas riquezas é o diálogo que Jesus teve com o jovem rico descrito em Mc 10.17-25.

Não estou querendo dizer com isso que ser rico ou buscar bens materiais seja pecado, porque afinal, acho que ninguém estuda e trabalha pensando “Deixe-me descobrir um jeito de ser ainda mais pobre” e todas essas coisas são legítimas sim, mas não são a prioridade. Além disso, também creio que “ser crente” só para dar o golpe do baú em Deus é um jeito muito medíocre de encarar não só o Cristianismo como a própria vida.

E, adivinha qual é a primeira coisa que um descrente me pergunta ou fala quando descobre que sou cristã protestante? Porque quando as pessoas não têm uma visão muito clara do que realmente é o Evangelho a reação mais provável é que elas o associem aquilo que lhes é apresentado como se fosse e considerem que todos aqueles que se declaram cristãos sejam farinha do mesmo saco – e de acordo com a vontade de Cristo deveríamos sim ser todos farinha do mesmo saco (Jo 17.20-21), mas vivendo de acordo com os preceitos que Ele mesmo nos deixou e não pervertendo os Seus mandamentos.

2. REINO DE DEUS ≠ PLACA DE IGREJA

Ainda aproveitando a referência de Jo 17.20-21, a segunda coisa que eu creio que o Reino de Deus não é e nem poderia ser resumido em placas de denominações. E esse é um ponto muito sério, mesmo. Jesus não disse aos Seus discípulos “Olha, eu tô voltando para o Pai, e o meu desejo é que vocês criem várias denominações distintas e esqueçam essa coisa de guerrear contra Satanás e comecem a guerrear entre si, vlf flw” e nem nada que chegasse perto disso. Como disse em alguns parágrafos anteriores, eu sou uma daqueles crentes mais cricris quanto a selecionar as pregações e “louvores” que ouço (Perdão, gente, mas não tem quem me convença que “A minha vitória hoje tem sabor de mel” pode ser classificado como louvor a Deus, e não, não digo isso só porque o estilo musical passa longe de ser o meu preferido), mas tem gente que consegue não só me superar nesse quesito como também me assustar.

Por exemplo, eu faço parte de uma Igreja renovada, mas não é porque buscamos e acreditamos na manifestação do Espírito Santo que negligenciamos o estudo da Palavra, muito pelo contrário, nossos pastores não só ensinam como nos estimulam a meditar e estudar a Bíblia sempre. Agora nas férias enquanto viajávamos à praia minha mãe e eu procuramos outra denominação que tivesse o acesso mais facilitado do lugar onde estávamos (até porque não conhecíamos muito bem a cidade) e priorizasse a Palavra, e encontramos, fomos à uma igreja mais tradicional onde nada do que o pastor disse foi contrário aquilo que a Palavra diz, e para nós isso foi mais que o suficiente.

É claro que sou mais acostumada e gosto mais de onde eu congrego, dos louvores que nós cantamos e como cantamos, e mesmo do jeito como meu pastor nos ensina; mas nenhuma destas coisas seria um motivo válido para eu achar que a salvação é exclusividade da Igreja onde sirvo. E qual a minha surpresa quando, ao procurar na internet os endereços de denominações variadas, vi não só um como vários sites onde Igreja A usava imagens ou textos para ofender a Igreja B, que por sua vez criticava o modelo da Igreja C, sendo que esta atacava D e etc? Fazia tempo que eu não me sentia tão horrorizada e enojada, principalmente porque as pessoas que atacavam seu próximo tão fervorosamente (e nem sequer tentavam se basear na Palavra, que deveria ser o parâmetro para sabermos com o que e por que discordamos ou não) acreditavam que com essa postura tão cruel estavam agradando a Deus – fazendo coisas assim vocês só agradam “Santo Anás”, e não sou eu que estou falando porque foi Paulo quem disse isso (1Co 1.10-13).

Mais adiante, no 3º capítulo da mesma carta de 1Coríntios, Paulo dedica os onze primeiros versículos só para dizer que não interessa quem é de Paulo, Apolo ou Pedro se o fundamento for Jesus Cristo, e há aproximadamente dois mil anos depois ainda não parecemos ter aprendido totalmente essa lição. Às vezes fico imaginando se, nos dias de hoje, diante das discussões tolas nas quais vejo cristãos se envolvendo, Paulo diria algo como “Ei, vocês! Eu já disse isso há tanto tempo, e ainda não conseguiram entender? Quem é que liga se vocês são de Lutero, Calvino, Armínio ou Wesley? Que importância tem se vocês são reformados ou renovados? Por que ainda perdem tanto tempo se preocupando com essas questões tolas quando deveriam estar mostrando Jesus às pessoas? Por que não procuram na Bíblia as semelhanças que os unem a despeito das diferenças entre seus teólogos ou reformadores? Vocês acham mesmo que os incrédulos estão enxergando Jesus enquanto vocês ficam aí guerreando por suas tradições? Vocês acham que Jesus apoiaria tal coisa?”.

Não consigo acreditar que o Reino de Deus possa ser algo à minha maneira, adaptado aos meus próprios costumes e concepções, porque isso seria contrário à existência de um rei, quanto mais o Rei dos Reis! Eu sei que, voltando a citar as diversas denominações para ilustrar o que quero, corro o risco de ser mal compreendida por quem me lê, e é também por isso, além da ética, que não gosto de citar nomes; mas peço que se esforcem em entender o que quero dizer. Não acho que seja errado pessoa alguma congregar em Igreja A ou Z se crer de todo o coração que assim o faz porque é certo e tiver as Escrituras como parâmetro para assim pensar, mas às vezes ouço de crentes umas coisas que… Me faltam palavras para descrever, de verdade. Uma vez, caminhando na rua, ouvi um casal conversando com um amigo “Agora estou indo à Igreja C, me sinto mais feliz lá. Você sabe como é, né? Eu nunca gostei de comemorar o Natal, e lá onde estamos ninguém pensa que assim o seja, por isso creio que agora encontramos a Igreja que realmente combina conosco”. Há ainda aqueles que dizem coisas como “Por que você usa maquiagem no rosto? Não acredito que isso seja de Deus, por isso saí da Igreja onde me converti e fui para esta outra onde não apoiamos este tipo de comportamento”.

Sinceramente? Não sou das mulheres que mais gostam de rebocar a cara, prefiro gastar cinco minutos dormindo a mais antes de ir à faculdade de manhã a acordar ainda mais cedo para encher a minha cara de produtos cosméticos, e com 22 anos de idade isso ainda não é algo que eu já tenha conseguido mudar; mas gosto sim de maquiagem, principalmente quando não tão cedo. E amo saias e vestidos também, no verão é praticamente impossível me ver vestindo outra coisa; mas não creio que peco quando resolvo botar uma calça jeans. E também não creio que preferir uma coisa ou outra seja motivo para eu querer justificar minha preferência querendo dizer que o Reino de Deus tenha a ver com isso porque seria me importar demais com as tradições e a aparência me esquecendo da parte mais importante (Mt 15.1-20) ou querer fazer de Deus o meu servo, quando deveria ser o contrário, e também porque o Senhor escolheu habitar no corpo de cada um de nós (1Co 6.19) e não nos templos das variadas denominações (At 7.48-50).

Penso que o Reino seja o lugar onde eu deva buscar o bem dos outros, e não o meu próprio (1Co 10.24-32).

3. REINO DE DEUS ≠ LUGAR DE GENTE TRISTE E SEM ESPERANÇA NA VIDA

Acho que este é outro ponto um tanto complexo de explicar sem ser mal interpretada, por isso peço que tenham muita paciência e cuidado ao tentar entender o que quero dizer.

Não estou aqui querendo criticar o modelo de denominação A ou Z por ser mais quente ou fria, como eu mesma disse um pouco acima, comecei o ano indo a um templo bem diferente do qual faço parte e a pregação da Palavra livre de heresias me bastou, de fato senti a Presença de Deus lá independente de as coisas não acontecerem da maneira como estou acostumada. Além disso, também falei que faço parte de uma Igreja renovada, mas nasci e fui criada em uma denominação reformada e, acredite, a primeira vez que fui levada à uma Igreja pentecostal… Digamos apenas que eu fiquei tão, mas tão chocada e assustada, que queria me esconder debaixo da cadeira de tanto medo. Falo disso só para explicar que entendo bem as diferenças e não tenho a intenção de criticar grupo nenhum por ser mais moderado ou agitado, não é esta a intenção deste tópico.

O que quero dizer é que, independente do modelo que a Igreja adota, nós como cristãos devemos nos perguntar o que temos transmitido às pessoas como sendo o Reino de Deus. Há alguns anos, acho que três ou quatro, uma amiga minha da adolescência aceitou ir comigo à minha Igreja; eu já a tinha chamado outras vezes, mas aquela foi a única vez que ela concordou em ceder um espaço na sua agenda para me acompanhar lá. O fato é que, esse mesmo dia não se tratava de um “culto normal”, e sim de um encontro de jovens e adolescentes. E eu não sei como costuma ser nos outros lugares, mas os cristãos jovens com quem convivo costumam ser bem mais… Alegres e espontâneos que os adultos. Enfim, essa minha amiga me disse que gostou, mas nunca consigo esquecer a expressão de surpresa dela quando viu o sorriso e a felicidade das pessoas louvando enquanto olhava e analisava tudo à sua volta. Era como se a cara dela dissesse algo do tipo “Por que eles estão felizes? Igreja não é lugar de gente feliz!”.

Repetidamente usamos as palavras de Davi dizendo que nos alegramos por ir à Casa do Senhor (Sl 122.1), mas quando vejo coisas desse tipo me questiono se compreendemos de fato o que Davi quis dizer com isso ou não. Outro exemplo bíblico que ilustra a alegria e o desprendimento de Davi, que não se importou nem com a sua própria coroa na presença de Deus, pode ser visto no sexto capítulo de 2Samuel.

E sim, eu entendo perfeitamente que uns são mais quietos e outros mais animados, etc. e tal; eu mesma não sou uma das pessoas mais extrovertidas da face da Terra. Mas quando penso em buscar a Deus, não consigo agir com indiferença – e não estou falando só de louvor e adoração através de músicas, mas sim de viver a própria vida como uma prática contínua de adoração (1Co 10.31). Me sinto bem solta nos louvores sim, não sinto vergonha nenhuma de dançar, sorrir ou chorar se assim o Espírito me tocar; não porque eu faça questão de que os outros me vejam fazendo isso e aquilo ou coisa assim, até fecho os olhos para não ficar tentando descobrir o que a pessoa do meu lado está pensando ou deixa de pensar. O ponto é que costumo pensar e agir assim porque, até alguns anos atrás, era ouvindo Arctic Monkeys ou Franz Ferdinand que eu me alegrava e dançava, e tanto o Alex Turner quanto o Kapranos não têm a mínima ideia de que existo e nunca fizeram nada por mim, então não consigo ver Jesus como alguém menos digno da minha alegria ou da minha dança. Eu me sentiria muito hipócrita se assim agisse, e isso se estende à todas as demais áreas da minha vida porque a alegria do Senhor é a minha força (Nm 8.10) que também se traduz em saber que a minha esperança não depende de coisas transitórias (Sl 3.8 e Sl 20.7-8).

4. REINO DE DEUS ≠ QUALQUER COISA CONTRÁRIA À BÍBLIA

Ainda falando acerca de o Reino não se adaptar à minha própria vontade porque, além de termos sidos ensinados a orar nesse sentido (Mt 6.10) nem a vontade do próprio Jesus foi atendida (Lc 22.42), estranho muito quando ouço argumentos do tipo “Na época da Bíblia os tempos eram outros, hoje as coisas não precisam ser levadas tão ao pé da letra assim…” na boca de cristãos, porque depois de algum tempo conseguimos entender que uma das possíveis traduções contemporâneas para isso seria “A verdade é que eu quero transar agorinha (ou qualquer outro pecado, isso não se aplica só ao sexo ilícito) e não encontro base bíblica que apoie o que estou querendo; mas não vou admitir que esta é uma tentação ou uma falha que precisa ser trabalhada no meu caráter porque se Deus achasse mesmo que isso fosse tão errado assim tiraria a minha vontade, então a culpa é toda dEle!”.

Não acredito nisso simplesmente porque Deus não é injusto (Hb 6.10-12) e é imutável (Sl 102.25-27 e Tg 1.17). Muitas pessoas dizem acreditar que os tempos antigos eram mais fáceis, que os cristãos não eram tão tentados como hoje somos e coisas do tipo, mas como é possível alegar que antes havia facilidade sendo eles transformados em espetáculo no Coliseu ou morrendo de formas variadas por viver e espalhar a Palavra? Eu não acredito que os primeiros cristãos fossem menos tentados à fornicação ou ao adultério do que hoje somos (Ec 1.9), só acredito que na época deles não existia Playboy, canais PPV ou Redtube e afins; mas haviam prostitutas(os) cultuais (Dt 23.17-18) e muitas outras formas de tentação. O fato é que se Deus não muda, não posso acreditar que o ato sexual ilícito (Gn 2.23-25) em si ou mesmo a pornografia (Sl 101.3a, ACF) e a masturbação (1Co 6.9) desagradem a Deus hoje menos do que desagradavam no princípio, e menos ainda que o Senhor seja injusto ao ponto de pedir pureza sexual dos primeiros judeus e cristãos convertidos, e em nome da modernidade de nós não.

E só falei dos pecados sexuais porque, com essa nossa mania errada de classificar os pecados como “pecadinhos” ou “pecadões”, sendo eles os únicos praticados contra o próprio corpo (1Co 6.18) geralmente são os que mais chocam e escandalizam os cristãos, mas a imutabilidade de Deus também se aplica ao alcoolismo, ao roubo, ao assassinato, à mentira, à fofoca etc.

5. REINO DE DEUS ≠ LUGAR DE GENTE PERFEITA

O Reino de Deus também não é o lugar onde, após ser batizada, o fogo do céu ou um raio cai sobre minha cabeça toda vez que sou tentada a pecar como sinal de que, depois de minha conversão, acabou toda a tolerância de Deus com a minha imperfeição. Não estou dizendo com isso que o batismo seja uma decisão menos séria ou que, enfim percebendo que não é um evento místico onde após ser levantada das águas me torno à prova de pecados vou pecar bastante porque Jesus perdoa (Rm 6); mas acho que é sempre bom esclarecer bem as coisas. E se o próprio Jesus foi tentado após o batismo (Mt 4.1-11), como é que nós podemos esperar coisa diferente? Inclusive, é justamente aí que reside a nossa esperança: Jesus não só foi encarnado como tentado e venceu o mundo, e se estivermos nEle também podemos superar as nossas tentações e pecados (Jo 16.33).

Cuido de uma célula (seguimos o MDA, e não o G12) de adolescentes já há algum tempo, e vira e mexe esse assunto volta à tona. É estranha a tendência de as pessoas acharem que, por cuidar de um grupo, já atingimos a perfeição ou coisa do tipo, e eu sempre tento desmistificar isso com minhas meninas. Também não é verdade que o processo de santificação de um cristão começa a partir do momento que ele assume um grupo ou um ministério porque esse processo começa muito antes, a única diferença que eu vejo é que, quando percebo que tomo conta de outras pessoas e os meus erros podem afetar a fé ou o relacionamento delas com Deus, repenso ainda mais antes de tomar qualquer decisão (Mt 18.6). Mas isso não quer dizer que eu não peque mais, porque peco praticamente todos os dias sem querer ou perceber, e quando descubro que isso acontece me arrependo, confesso e mudo de atitude.

Antigamente minhas meninas costumavam pensar que, por ser convertida há anos e estar à frente de um grupo isso automaticamente me isentasse de qualquer tentação… Pois sim, digo que nesses últimos dois anos me senti mais tentada que durante a minha vida inteira, e de diversas maneiras. Acredito que, por ter nos feito do modo como nos fez, Deus conhece completamente (e mais que nós mesmos) as nossas limitações e não exige de ninguém a perfeição, aliás, se houvesse qualquer possibilidade remota de alguém atingir a perfeição e ser justificado por seus próprios esforços não seria necessário que Cristo fosse crucificado por nós. Existem dois pontos, não digo que bons, mas necessários, das tentações que tento ter sempre em mente: A) Cada tentação é uma chance de eu conhecer melhor a mim mesma, porque é justamente nas tentações que descubro os defeitos e maus desejos que ainda precisam ser trabalhados no meu caráter (Tg 1.13-15); e B) Se percebo que estou sendo tentada tenho a chance de correr antes que o pecado aconteça (1Ts 5.22 e Tg 4.7).

O Reino de Deus também não é um lugar onde as pessoas devam se sentir melhores que as demais por causa da cor “normal” de cabelo, da pele sem tatuagens, da opção sexual, da vida sem pecados tão perceptíveis, do ministério que exerce ou qualquer coisa do tipo. Primeiro porque Deus amou e entregou Jesus por todos, e não só para quem parecia mais certinho aos olhos da sociedade; aliás, não existe nenhuma base bíblica para achar que Deus ame mais os “certinhos”, muito pelo contrário, a Palavra diz que todos pecaram e carecem da glória de Deus (Rm 3.23) e que o Senhor sente muito mais prazer no arrependimento de um “grande pecador” que no arrependimento de noventa e nove “certinhos” (Lc 15.1-7). Às vezes parecemos nos esquecer que os publicanos, as prostitutas, os leprosos, os estrangeiros, os pagãos e todos os que eram por qualquer motivo rejeitados pela sociedade da época mudavam suas vidas por escolha própria ao conhecer Jesus intimamente, e não por causa dos sermões proferidos pelos fariseus e mestres da Lei, porque não é o nosso discurso e nem a aparência de elevada religiosidade e santidade que vai convencer ninguém de nada. Como disse, nasci e fui criada em berço cristão, mas eu era muito orgulhosa e idólatra, e não foi o sermão de ninguém que mudou a minha antiga forma de pensar; mas quando experimentei um relacionamento íntimo e verdadeiro com Jesus, orando no meu quarto e não no templo, fui percebendo que a cada dia que passava crescia o meu nojo por cada pecado onde antes eu costumava sentir prazer.

O ponto é que, através do novo nascimento demonstrado publicamente pelo batismo, sou salva e ganho autoridade no nome dEle para buscar a mudança de vida que antes era impossível para mim (Jo 1.12-13). E se é impossível para mim significa que essa mudança vai muito além da minha própria força de vontade ou talentos, mas que em Cristo eu sou uma nova criatura (2Co 5.17).

6. REINO DE DEUS MEU REINO

Existem ainda muitas coisas que poderiam ser escritas, mas este texto já está grande demais e acho que muito do que já vi pode ser resumido nesses tópicos.

O Reino de Deus também não é o lugar onde eu recebo Jesus uma vez na vida e pronto; não existe nenhuma varinha mágica ou trevo de quatro folhas que me garanta sucesso diário sem data de validade após uma única oração de consagração ou declaração. Uma coisa que percebi, e demorei muitos anos para perceber, é que mesmo depois de achar que conheço Jesus há muito tempo preciso continuar me entregando a Ele todos os dias (Ap 3.20); e isso é muito sério. Às vezes eu me esqueço disso e, lá pela metade do dia, quando analiso os meus pensamentos e decisões percebo que estava construindo o meu próprio reino, e não o de Deus – e é esse o momento em que preciso decidir qual dos dois reinos é mais importante para mim, porque querer que haja um consenso entre eles é impossível e não vai funcionar nunca (Gl 5.16-18).

Nem adianta também eu querer responsabilizar Fulano, Ciclano ou o próprio Deus quando, fazendo as coisas do meu jeito elas não dão certo e cedo ou tarde as consequências chegam, porque a escolha é minha e de mais ninguém (Js 24.15). Ser Rei não significa expressamente que Deus seja um tirano que faz as coisas contra nossa vontade, Ele sempre permite que escolhamos o caminho certo ou o errado (apesar de querer que sempre optemos pelo certo), e deixa com que lidemos com as consequências (boas ou más) das escolhas que nós mesmos fazemos. Eu sei que esta questão do livre-arbítrio parece incompreensível à mente humana, mas sempre tento encará-la da seguinte maneira: nós conseguimos inventar robôs, nos foi dada a inteligência necessária para isso (não a mim, é claro, porque sou de Humanas… Mas acho que deu para entender), e se até nós podemos fazer isso, quanto mais Deus que é Todo-Poderoso poderia ter criado 7 bilhões de robôs se assim quisesse!

Tudo com certeza seria mais fácil se fôssemos robôs, não teríamos problemas como a confusão gerada por emoções ou a inconstância, mas Deus escolheu criar e amar pessoas não só com esses problemas como com muitos outros mais, e quer que essas pessoas O amem por si mesmas, sem que sejam forçadas a isso. Se nem mesmo eu, com todas as  características que me definem como humana, gostaria que alguém me amasse por pura obrigação ou conveniência, imagine O Criador de tudo e todos!

No entanto, se eu de fato amar a Deus sobre todas as coisas (Mc 12.30 e Dt 6.4-5), o que é bem diferente de somente crer que Ele existe (Tg 2.14-19), acabarei buscando Seu Reino em primeiro lugar (Mt 6.33) automaticamente, sem que isso me seja um fardo pesado (Mt 11.28-30). Mas isso também vai significar abrir mão de mim mesma (Mc 6.34-35) para que, buscando o Reino, o próprio Deus cuide de cada detalhe de minha vida (Mt 6.33 outra vez) segundo a vontade e os planos dEle (Jr 29.11), que podem ser bem diferentes dos meus (Pv 16.9).

VENHA O TEU REINO!

Mas então, o que é esse Reino? É simplesmente onde as pessoas amam a Deus mais que tudo e não cometem maldades contra os outros porque os amam como a si mesmos (Mc 12:30-31 e 1Jo 4:7-8); ouso dizer que o Reino de Deus é o único lugar onde não há discriminação para aqueles que são vistos como mais fracos ou errados (Mt 5.1-12); onde apesar de não serem todos ricos há uma verdadeira preocupação em atender as necessidades dos mais pobres e desamparados (Tg 1.27); onde ninguém se vangloria em nada porque toda a glória é de Deus somente (1Cr 29.11); onde os santos reinarão com Ele (Dn 7:27); onde a maneira de pensar das pessoas não é redigida pela moda, pela novela, pelos supostos intelectuais ou pela publicidade (Rm 12.1-2); onde ninguém é recriminado por ser menos inteligente (1Co 1.27-29); onde ninguém é discriminado ou favorecido por sua baixa ou elevada posição social  (Pv 22:2); onde as pessoas são livres para se arrependerem de seus erros e mudarem de atitude sem que sejam apedrejadas (Mt 3.2); onde os mistérios de Deus são revelados (Mt 13.11) e todo aquele que se dispõe a procurá-Lo O encontra (Pv 8.17); é um tesouro de grande alegria (Mt 13.44); é cheio de gente diferente (Mt 13.47); onde há sintonia entre as coisas terrenas e celestes (Mt 16.19); onde a inocência, a alegria e a humildade de todos são como as de uma criança (Mt 18.3-4 e Mt 19.14);  onde as pessoas conhecem e são libertas pela Verdade, mas tornam-se praticantes de tudo o que aprenderam (Jo 1.1-4, 1.10-14, 8.32, 14.6 e Tg 1.22-25); onde o acusador de nossas almas não tem vez (Ap 12.10).

Existem outras inúmeras passagens e referências bíblicas que ilustram e explicam o Reino de Deus, e eu não consigo me lembrar de todas elas, admito que falhei em não citar muitas outras coisas boas. Mas acho que a questão principal que nós, cristãos, devemos nos fazer é se estamos de fato buscando o Reino e se isto é visível através de nossas vidas, porque se nem nós mesmos priorizarmos a busca pelo Reino os nossos amigos e familiares podem acabar acreditando em qualquer coisa diferente disso (Mt 24.23-51).